quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Vitória militar eleitoral

Foi assim há dias na Madeira, mas (ainda) é assim no país. Os apaniguados do candidato ou partido vencedor não raro assediam os derrotados. Com bazófia e danças de pavão. Na melhor das hipóteses. Na pior, causam estragos.
É fastidioso repetir, mas a, digamos, política torna-se igual ao futebol, que dentro das quatro linhas é a versão “civilizada” da guerra e fora delas cada vez mais um preâmbulo da guerra.
De acordo com a moral vigente, um adversário derrotado não é alguém com quem tenhamos de trabalhar no dia seguinte (alguém para quem teremos de trabalhar, já que em democracia os cargos são representativos de todo o eleitorado, não apenas da facção). Para muitos militantes, um adversário derrotado é uma entidade que só um inesperado resto de delicadeza impede de esmagar — ainda que não impeça de incomodar.
Não surpreenderá que um destes dias, no calor da vitória, alguém grite mata e a turba saia de gadanhas na mão disposta a concretizar.
Tem a ver com a insistência abusiva no termo “maioria” ligado a democracia. A maioria decide, a maioria tem razão, a maioria determina o destino da minoria. A maioria delibera sobre a vida e a morte.
Que conveniente é para os poderes eleitos esquecer que democracia é permanente escolha entre alternativas — que têm, por definição, de ser asseguradas pelo próprio sistema. É consenso mas também debate, direito à diferença, direito a prosseguir caminhos alternativos no seio da mesma comunidade.
A democracia foi inventada para assegurar a sobrevivência das minorias, mas, no clímax da batalha eleitoral (como aliás no despacho dos ministérios), o ímpeto é frequentemente totalitário — e quase sempre besta. Sobretudo tratando-se das jotas, essas milícias com uma bandeira no lugar da cabeça.