sexta-feira, 18 de março de 2016
terça-feira, 15 de março de 2016
Os marados eucaliptos alentejanos
Passada a histeria dos pirómanos, pode-se debater civilizadamente o livrito ridículo (por pretensioso) de Henrique Raposo.
«Apesar de não ser um retrato do Alentejo, de estar muito longe disso, Alentejo prometido é um livro bem escrito e desenvolto, pesem expressões como “o odor a haxixe dos eucaliptos” (ou o autor não cheirou haxixe ou não conhece o cheiro dos eucaliptos).»
«As generalizações, feitas a partir de umas quantas conversas familiares e de outras tantas observações recolhidas em viagens de automóvel (a propósito da ida a um casamento) numa área geográfica do Alentejo litoral — não muito afastada do triângulo entre Ermidas do Sado, Santiago do Cacém e Cercal —, chegam a ser risíveis.»Artigo de José Riço Direitinho: https://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/alentejo-retrato-desfocado-1726095
quarta-feira, 2 de março de 2016
Considerações sobre a intifada
1. Há anos um jornalista espanhol em viagem que atravessou Portugal de
norte a sul escreveu um livro com as suas impressões e calhou de considerar
horrível a capela que, na sua de facto pouca lindeza, vigia do alto uma das
terras onde vivi. Não era ainda o tempo das redes sociais, mas já havia
indignação na paróquia contra o espanhol, e se ele tivesse a má ideia de voltar
ali, dificilmente passaria sem uma reprimenda.
Em Portugal as pessoas orgulham-se de tudo e sobretudo de nada, e a
circunstância, para a qual por definição nada contribuíram, de terem nascido em
determinada província ou país, que com frequência execram ou desonram, consegue
por vezes transformá-las em espantosos chauvinistas. Raramente ou nunca se unem
para salvar um monumento, reconstruir uma escola ou homenagear quem realmente sobressaia
da mediania, mas entrelaçam de imediato os braços numa frente tribal contra o
infeliz que se dê ao trabalho de achar menos perfeito o habitat delas.
2. O cronista Henrique Raposo escreveu um livro onde decidiu separar-se
da sua terra natal, o Alentejo. (Ninguém se devia admirar que Raposo mais cedo
ou mais tarde levantasse um idiossincrático e repreensor dedo ao velho Alentejo
vermelho. O complexo de Édipo que a todos nos pisca o olho não poderia deixar
de ter nele e na sua ideológica condição uma particular influência.)
Henrique falou do livro numa entrevista, onde expôs mágoas, desilusões
e ressentimentos que o livro desenvolve. Foi duro e teve reacções, como é
natural. Só que as reacções, neste país de facções e claques e raciocínio hooligan que o futebol moldou,
rapidamente se transformaram em urros, vontade de linchamento e desfalecimentos
pirómanos. O autor foi ameaçado e o livro alvo de petições incineradoras. O direito
e a civilização a ele associada, se tivessem de ser inventados agora e em Portugal,
jamais veriam a existência, mas Fahrenheit
451 ou qualquer distopia que envolva fascistóides massas acéfalas e
enfileiradas são ficção apenas por acaso e provisoriamente.
P.S.: Intifada à parte, parece-me compreensível mas noutro contexto
deslocada a generosidade de evocar Com Os
Holandeses, de Rentes de Carvalho, a propósito do livro de Henrique Raposo,
como fez Bruno Vieira Amaral: há um tom irritante de cátedra e ciência ou moral
certa em Raposo que não me lembro de ter notado em Rentes.
terça-feira, 1 de março de 2016
Um drama social
A loja de conveniência é o seu ponto de encontro e os seus
hábitos um drama social. Chegam e raspam com impaciente mestria, usando em
gestos rápidos a moeda como o cartão de crédito de quem emparelha linhas para
nasalar na superfície vidrada do balcão. A fúria com que rasgam o papelucho sem
prémio é a mesma de quem despedaça as contumazes protecções das rolhas quando
estas, pela sua resistência procrastinadora, obrigam a que a vital respiração
do vinho se faça logo boca a boca.
São uns viciados, sim. E, porque alardeariam um milhão como
alardeiam os 50 euros que às vezes lhes calham, não há esperança de que adiram voluntariamente
a um grupo de milionários anónimos.
Subscrever:
Mensagens (Atom)