A exemplo de tantos outros edifícios abandonados no país, talvez a Escola
da Fontinha, no Porto,
nem precisasse de
ser ocupada por uma associação recreativa e folclórica, um clube de amigos
do automóvel, ou um qualquer grémio jantante de pessoas de bem para ser
generosamente cedida em protocolo por uma década ou duas. Bastava ter sido
pedida com vénias e salamaleques e outras homenagens ao imenso ego do xô
presidente da Câmara. O requerimento, mesmo que para aquelas nobres
actividades, não podia era ser apresentado por gente com rastas,
piercings ou tatuagens, que
as boas famílias em Portugal não apreciam.
Presidida por quem é, a Câmara do Porto não perdeu naturalmente
um minuto a avaliar o eventual mérito da ocupação da Escola e jamais equacionaria
a possibilidade de lhe dar ela própria enquadramento e apoio. O preconceito tem
demasiada força.
Rui Rio é um presidente de câmara a governar para uma
cidade que existe sobretudo na sua cabeça. Não está ao serviço de todos, divide os
cidadãos de acordo com os seus (dele) preconceitos, beneficiando uns e
desprezando os outros. É autoritário, e nas restantes vezes é ressabiado,
vingativo. Durante o seu reinado, a Invicta só não desceu mais ao nível de uma
qualquer cidade de província porque houve iniciativa privada que por exemplo atraiu turismo
(mochileiro, é certo), uma onda que ele oportunisticamente tentou surfar. Onda
essa que lhe serve, e infelizmente a demasiada outra gente, para achar que a
vida no Porto está boa. Não está assim tanto. Como segunda cidade de um país europeu, o Porto
deixa muito a desejar. Os paroquianos é que são pouco exigentes.
Rui Rio continuará até ao fim a colher os frutos de bravatas que passaram
por discurso iluminado e lhe deram fama de homem rigoroso e tenaz. Não foi muito disto e em tantos momentos foi-o em favor de causas que só empobreceram a
cidade, a tornaram mais provinciana. Mas o auditório conservador português, ele
próprio de tendência paroquial, está sempre a suspirar por um «déspota esclarecido»
— e o mau-feitio do Presidente da Câmara nortenha passa muitas vezes por isso.
Talvez venha a governar o país.