O escritor Zoran Zivkovic diz, e eu concordo, que «o melhor curso de escrita criativa é a leitura criativa».
Ler, ler, ler e só depois, se ainda tiver ficado intacta alguma veleidade, tentar escrever.
Acresce que geralmente os candidatos a escritor precisam é de um curso de escrita. Ponto.
sábado, 25 de junho de 2016
sexta-feira, 24 de junho de 2016
Brexit
A saída da Inglaterra da União Europeia poderia ser o abanão necessário para que a União Europeia voltasse a ser “grande” (para usar terminologia trumpiana, mas mais modestamente aplicada a uma Europa unida, solidária, corajosa, com memória dos seus valores fundamentais, política e economicamente inteligente). Seria porém estúpido esquecermo-nos dos motivos que levaram a maioria dos ingleses a votar a saída e do discurso e perfil dos líderes que os orientaram nesse voto. E aí temo que o que estamos a observar é, sim, mais uma sinistra evocação do pior da Europa, as primeiras décadas do século XX. Os populismos de vária índole, os regionalismos patetas e acríticos, os nacionalismos a descambarem em chauvinismo, a xenofobia… Agora, mais do que nunca nas últimas décadas, é adequado lembrar que também Hitler teve do seu lado a grande maioria da população e nem por isso seria correcto chamar ao 3.º Reich democracia. Infelizmente, para muitos, nos vários níveis e estâncias de poder, a adesão popular ao nazismo (que, como o Brexit, também roubou votos ao socialismo da altura) não é já uma vergonha histórica mas uma lição de táctica.
Perdoar-me-ão o pessimismo, mas não, não será com as actuais gerações de políticos e eleitores que a Europa voltará às lições da Segunda Guerra Mundial para se tornar melhor. Há cem anos havia uma reserva de gente decente, com um sentido de ética e sobretudo com uma influência social que hoje, da província às grandes urbes, não se vê por onde ande.
Perdoar-me-ão o pessimismo, mas não, não será com as actuais gerações de políticos e eleitores que a Europa voltará às lições da Segunda Guerra Mundial para se tornar melhor. Há cem anos havia uma reserva de gente decente, com um sentido de ética e sobretudo com uma influência social que hoje, da província às grandes urbes, não se vê por onde ande.
terça-feira, 7 de junho de 2016
Being a hooligan
Por falar em aparências, um mundo liderado por Donald Trump (nos EUA) e Boris Johnson
(em Inglaterra) teria uma certa coerência — ideológica, sim, mas sobretudo estética.
Quem sabe não se revitalizava uma profissão em decadência a partir de meados de
Setecentos, quando o Barroco foi deixando de estar na moda: a dos peruqueiros.
Já estou a imaginar slogans profilácticos nas montras da Baixa e do Observador: «Proteja as suas ideias das
correntes de ar fresco: cubra-as com a melhor palha do Kansas».
Estou de acordo, não se deve argumentar contra alguém com
base nas suas características físicas. Mas o penteado destes dois faz por opção
própria parte da sua facúndia. Por isso, não se chega ao âmago do pensamento deles
sem penetrar na selva do couro cabeludo e sem cravar a picareta nas zonas mais
profundas do rizoma.
segunda-feira, 6 de junho de 2016
O ogre republicano
O republicano Paul Ryan, líder da Câmara dos Representantes dos EUA, resistiu
mas lá acabou por declarar o seu apoio a Donald Trump. Disse: «Não é segredo
nenhum que ele e eu temos divergências (…) Mas a realidade é que, naquilo que
define a nossa agenda política, temos mais em comum do que desacordos.»
A realidade é que já sabíamos disso. O ogre republicano existe e medra independentemente
do penteado de quem lidera.
domingo, 5 de junho de 2016
Avaliar pelas aparências
Há um concurso num canal de televisão onde a determinado passo os
concorrentes escolhem pessoas na rua para responderem por eles a uma pergunta esperando
que falhem, já que só assim ganharão o seu punhado de euros. E os concorrentes
lá se põem a avaliar pelo aspecto os transeuntes para ver qual dá garantias de
ser ignorante, saloio, rústico, néscio, retardado — incapaz, na opinião deles, de acertar a
resposta, como convém. E, claro, há risinhos quando o preconceito e o estereótipo
parecem confirmados pela realidade, quando o escolhido não sabe a resposta. Não
há contudo os mesmos risinhos de patética condescendência e superioridade quando
o objectivo é que alguém acerte a resposta e, apesar de escolhido pelo seu ar
de adequada urbanidade, falha. Também não há este tipo de risinhos quando o
próprio concorrente, tão à vontade para avaliar alguém pelo seu aspecto, falha.
Por mim, se algum dia estivesse suficientemente tonto para ser
concorrente, escolheria para acertar as respostas todo o transeunte que mudasse
de passeio à mera vista da comitiva televisiva. Se é para julgar pelas aparências,
este parecer-me-ia um excelente indicativo de inteligência. E escolheria para falhar
as respostas todo aquele que tivesse ar de concorrente do programa, incluindo o
apresentador. Grandes probabilidades estariam do meu lado.
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