quarta-feira, 19 de junho de 2013

Este livro não é para si, não compre

«Mansfield Park é seguramente a obra mais controversa e menos amada pelos apreciadores da escrita de Jane Austen. (…) Por estas e outras razões, Mansfield Park (…) é um romance complexo e de alguma forma estranho para os leitores assíduos de Jane Austen.»

As frases anteriores abrem e fecham, respectivamente, a sinopse da edição de Mansfield Park pela Book.it. Quando a editora do grupo Sonae decidiu publicar o livro, fê-lo naturalmente achando que «Jane Austen permanece até hoje como uma das mais lidas e amadas romancistas de língua inglesa de sempre», como afirma na badana. Mas na hora de escolher uma sinopse para a contracapa, uma de duas coisas aconteceu:
i) o editor foi a net e traduziu sem ler ou perceber o primeiro trecho que encontrou a falar sobre o livro;
ii) o editor estava chateado com a ideias de Belmiro de Azevedo quanto ao que é um ordenado e resolveu, por vingança, espantar os leitores previsíveis do romance. É bom ver um indignado em acção onde menos se espera.

Claro que o textito pode atrair um outro tipo de clientela. Gente que não aprecia Jane Austen. Ou gente que, distraída, se entusiasme com a possibilidade de aquele ser um romance complexo. Mas desconfio que, para os padrões de Belmiro, estas vendas não chegarão para eleger o editor como funcionário do mês na Sonae.

Também não é seguro que a exportação seja uma saída. Afirmar na ficha técnica que «Este livro foi escrito ao abrigo do Novo Acordo Ortográfico» dificilmente convencerá o público brasileiro de que Jane Austen é um potencial novo Prémio Portugal Telecom.

Talvez por isso os meus amigos o tenham comprado por um euro. 

Tea Party Portugal

Um dos colaboradores do Blasfémias reclama um «Tea Party Brasil». Faz sentido. Poderia aproveitar e pedir a mudança do nome do blogue onde escreve. Tea Party Portugal assentava melhor e era mais honesto para um sítio como aquele.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Menos Estado (2)

Se a transacção para uma sociedade com menos Estado feita à maneira da troika é dolorosa em todo o lado, para muitas localidades do interior do país ela será fatal. Há concelhos inteiros que não sobreviverão sem função pública. Toda a sua economia está centrada nas instituições públicas e no emprego público. É isto saudável? Provavelmente não. Mas conviria que o Governo e os seus arautos se detivessem um minuto no assunto. Que assumissem publicamente que um brutal aceleramento da desertificação do interior é um dano colateral aceitável na demanda da sociedade perfeita. Porque é isso que vai acontecer. Um cenário de western com ossadas a assomar do pó. Só que as ossadas não serão de búfalos, mas as dos velhos e de todos os que não terão como cumprir o êxodo rural ou a proverbial emigração lusa.

Menos Estado (1)

Já se percebeu que os defensores de menos Estado não têm capacidade para pensar em mais nada. São monomaníacos. Perigosos. Porque nas actuais circunstâncias menos Estado é apenas igual a mais desemprego e menos economia. Uma abordagem sensata da crise pela União Europeia e pelo FMI teria implicado uma estratégia de fortalecimento do sector privado como alavanca para o emagrecimento do Estado. Porém, como os inconsequentes actos de contrição do FMI provam, as instituições da troika não são constituídas por gente sensata, mas por ideologia em estado puro. O objectivo daquelas instituições não parece ser uma sociedade melhor — mas uma sociedade, adivinharam, com menos Estado. Para alcançar o objectivo não se constroem estratégias razoáveis e praticáveis — avança-se a eito e à bruta, por decreto ou ultimato.
Argumentarão que a troca das premissas não era condição para o fracasso. Que, pelo contrário, começar por emagrecer o Estado é que era condição para fortalecer o sector privado. Talvez uns anos antes pudesse ter sido assim. Talvez daqui a uns anos possa ser assim.
Neste período, emagrecer o Estado implicará emagrecer uma parte substancial da população.

Talvez em certos sistemas filosóficos ou ideológicos seja legítimo sacrificar uma parte da sociedade para que a outra sobreviva com menos Estado. Já se sabe: onde uns vêm distopias, outros vêem utopias. É tudo uma questão de perspectiva — e de ter ou não ter almoçado. 

Um país às direitas

Certos comentadores de direita, apesar de quotidianamente afirmarem que este Governo é incompetente, de passarem o tempo a irritar-se com este Governo, de não hesitarem em chamar “socialistas” a ministros deste Governo, não cessam de o apoiar. E porquê? Porque na verdade o Governo expira o mesmo ar pesado desta direita mais ideológica e contamina com ele a atmosfera geral — e isso é a única coisa que importa. Não importa que o Governo não tenha mudado nada do que estava realmente mal em Portugal. Boys? Aumentaram. Favorecimentos? Mantiveram-se. Instituições e gestores incompetentes? Certamente aquelas não diminuíram ou diminuíram por acaso, apanhadas na avalanche demolidora, e poucos destes foram demitidos (sendo, aliás, logo compensados com outros de igual calibre mas da ideologia certa). Pelo caminho foi dispensada gente competente, mas que vota mal, e destruídas instituições que não envergonhavam o Estado.
Importa é que de dia para dia se abre o caminho à Besta de certa direita (ou ao Caos, logo veremos).
O que o Governo fez foi munir-se de bulldozers para derrubar todo o bosque onde supostamente estavam as árvores más — e nós sabemos como a direita thatcheriana adora bulldozers. Entrar simplesmente nos antros de incompetência e nepotismo e identificar os elementos podres, como faziam os regedores florestais, nem sequer passou pela cabeça destes bacharéis. Cria-se o estigma, prepara-se a opinião pública (e há uma quantidade incrível de tipos auto-iludidos com o seu suposto conhecimento do país prontos a segurar este tipo de bandeiras) e leva-se tudo à frente. Para fazer o que tem feito, o Governo não precisava de contratar assessores nem de encomendar estudos (e no entanto contratou e encomendou sem constrangimentos). Bastava-lhe deitar sortes, com dados ou outro instrumento do mesmo rigor e critério. O resultado não teria sido diferente. Haverá alguém no meio deste excitadiço circo neoliberal que acredite ter-se melhorado o que quer que fosse no que se refere a corrupção, oportunismo, nepotismo, má gestão e incompetência em geral? Que isso foi sequer preocupação do Governo? Se não abundassem respostas a estas perguntas, bastaria olhar para a forma como os partidos da maioria estão a lidar com as autárquicas — que decorrerão como se não houvesse crise e como se Portugal não tivesse nada a aprender com as últimas décadas. Vários dos mesmos comentadores de direita que enchem as bochechas de moral e ética contra o Estado estão no terreno a posicionar-se ou a posicionar os seus peões, as suas brigadas jotas e os seus dinossauros escleróticos para o grande banquete da cacicagem.

A única coisa que mudará em Portugal depois deste Governo será o número de desempregados e de instituições entaipadas.*


*E a posição relativa do Borda d´Água em relação ao Excel no ranking.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Casais vice-versa

Há casais onde o homem é a versão masculina da mulher e ela a versão feminina dele. Na fisionomia, nas posturas, por vezes também em certos traços do carácter. Talvez essa correspondência, essa simetria de espelho, tenha sido o que os atraiu desde o primeiro momento. Ou talvez os anos de vida em comum os tenham moldado à imagem um do outro. Velhos casais que nos parecem incestuosos, constituídos por ignotos irmãos gémeos. Senhores de meia-idade de modos suaves e cara imberbe que copia a da mulher, ou mulheres rudes e viris a quem só falta o bigode do marido.
O casal de hoje ainda não tinha idade para se ter moldado pelo convívio dos anos, mas estava já adiantado no processo de osmose: de mão dada, exibiam a mesma barriga de cerveja, as mesmas pernas roliças, a mesma roupa branca, o mesmo cabelo castanho curto e o mesmo rosto levantado e avançado, como se a tentar evitar que os grandes óculos de sol, um pouco mais apressados, os deixassem para trás. Não pode haver mais identificação entre dois amantes do que aquele jeito partilhado de equilibrista de circo esforçando-se por tentear qualquer coisa na testa que ameaça escapar-lhe e o faz dar passos em frente e para o lado, num bailado sem coreografia rígida. Ambos tinham narizes pequenos para os óculos que adquiriram, e isso não foi um simples equívoco da vaidade — foi um equívoco partilhado, certamente na mesma sessão de compras.

A hora dos papagaios

Três mulheres, um petiz. Chegam e a mais velha instala-se com o rapaz num dos bancos de balouço. A mulher tem um ar apatetado e o timbre instável de um adolescente na mudança de voz. O miúdo utiliza frequentemente a expressão «credo» com uma entoação e uns trejeitos que parecem trair
a) excesso de convívio com a mulher mais velha (a quem a expressão assenta perfeitamente)
b) uma precoce postura irónica, zombeteira.
Olhamos-lhe para a cara, da mesma linhagem da dela, e inclinamo-nos para a hipótese do convívio, o puto como papagaio inconsciente e sem dolo da tia ou avó.
Depois as outras duas mulheres sentam-se nas imediações e ela, dando às pernas no balouço, enche o peito de ar a despropósito:
— Se fosse eu, punha os desempregados a semear batatas ali naquele campo. Se recusassem, não recebiam um tostão. Os desempregados e os do rendimento mínimo. Haviam de ver.
As correntes gemem com o vaivém e a sua voz concorre com elas na mesma frequência de agudos oxidados.
— Se fosse eu que mandasse, era assim. Eles não iam gostar, pois está claro, mas comigo trabalhavam, se queriam.
As outras, como se a levassem a sério, falam entre si de agricultura, naquele tom vago e ocioso de domingo à tarde. Fazem cálculos por alto a despesas e lucros com certa hipótese de lavoura e parecem concluir pela inutilidade da empreitada.
Ela não as ouve ou não desarma.
— Eu dava-lhes o desemprego! Se fosse eu que mandasse?
O miúdo tornou-se irrequieto e exigiu atenção. A diatribe da mulher interrompeu-se quando ela se ia referir aos funcionários públicos. Não pudemos ouvir que impropérios teria no seu repertório para esta outra espécie.
Podemos conjecturar que se tratava de uma seguidora atenta do Governo, possivelmente uma empreendedora de sucesso, ou alguém cujo mérito no trabalho deixa longe o espectro do desemprego.
Ou podemos correr o risco do preconceito (quem vê caras não vê corações?) e não pôr de parte a possibilidade de se tratar de uma reformada, quiçá da função pública, fascinada pela retórica tribal e o olhito azul de Passos Coelho. As mentes simples tendem a papaguear o que ouvem. Não é, rapaz?
— Credo!

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Jantando com Martin Amis, Casanova e Geoff Dyer

Assistir (é este o termo) à entrevista de Rogério Casanova a Geoff Dyer na Ler é um exercício de masoquismo. A erudição e o escrúpulo literário do português vergastam-nos e deixam o próprio entrevistado entre o intelectualmente embevecido (quando o cérebro geek e coleccionador de autógrafos de Casanova está ao serviço de uma espécie de private flattery) e o ligeiramente claudicante (quando Rogério e a sua inteligência ficam à solta e resolvem eles mesmos discorrer sobre os assuntos que previamente propuseram a Dyer). Numa conversa destas sobra para nós o lugar de espectador perdido — e para os nossos queixos a função natural de caírem bovinamente.
Claro que podemos adoptar uma atitude revanchista, a de avançar pelo mato das citações e das referências empunhando como catana a nossa própria e miserável experiência. Martin Amis é ali previsivelmente tido como um Deus do Olimpo? Bem, sempre podemos defender-nos dizendo que não se aguenta um London Fields a seguir a um Money. A bem da nossa própria idolatração, aconselha-se entremear um breve Night Train ou um diverso The Pregnant Widow, talvez um The Information, se o stock de vinho estiver em níveis razoáveis. Não podemos decerto dizer, como Geoff, que Amis um dia jantou em nossa casa, mas podemos sempre jurar que o regurgitaríamos (ao jantar) (e ao escritor) se ele aparecesse sem respeitar o tempo de digestão e a variedade na dieta aconselhados pelo endocrinologista.
Quanto à assertiva harmonia entre os interlocutores na entrevista, podemos ser pícaros e enviar para o consultório de Casanova na Ler uma pergunta sobre As Correcções, de Jonathan Franzen. Ficou ele ou não deprimido por saber que o desistente precoce* e muito casanoviano enjoado autor de Yoga para pessoas que não estão para fazer yoga tinha passado três semanas «muito felizes» a ler até ao fim a obra do tipo que fez capa da Time como o novo grande romancista americano?**


* Geoff Dyer, precocemente schopenhaueriano, diz que a sua «capacidade de desistir de um livro não tem paralelo»1.

** Depois desta frase não levo a mal que o leitor use o inalador para a asma.

1 O escritor também diz que há uma «progressão neutral» que reduz um dia os leitores masculinos à «vontade de não ler mais nada a não ser história militar». Na minha neurologia de bolso, eu imaginava que a isto se chamava regressão, regresso à adolescência e aos soldadinhos de chumbo.(a)

(a) Esta sucessão de notas foi o meu ocioso momento wallaciano.i

Franzen diz que ele e David Foster Wallace eram amigos. Não tive ainda oportunidade de saber o que pensa sobre isto Casanova.

sábado, 8 de junho de 2013

O Fim da Feira

Para poupar um clique, eis na íntegra o texto de J. Rentes de Carvalho:

«Este ano não há, mas
O FIM DA FEIRA NÃO É O FIM DA FESTA                                                                                                                                
Concordem: um aviãozinho a fazer piruetas e a deitar fumo colorido, um futebol, uma corrida de atletas, um comício, uma noite de São João, tudo isso conta para distrair e repousar.Sabemo-lo nós, sabem-no os autarcas do Porto que, diligentes no descanso do espírito e na necessidade de divertimento dos portuenses, se mostram fiéis seguidores do Panem et Circenses dos imperadores romanos. O pão, infelizmente, terá cada um de ganhar o seu, mas jogos, festas, divertimentos, é com eles.E assim, embora de mau grado, me vejo a concordar que a Câmara do Porto não apoie a Feira do Livro.Raro anda ali multidão para encher uma bancada. Não se ouvem tambores, trombetas, castanholas ou apitos, foguete nenhum. Em vez de se agitar em festa, aquela gente ora caminha com o nariz em livros, ora demora nos escaparates, olhando como em transe. É povo que parece não ter aprendido a dar vivas, nem a agitar bandeiras, em vez de dar patadas de entusiasmo move-se com a calma de quem visita a igreja.Será boato, mas já ouvi que boa porção dos que a visitam são atreitos a pensar pela própria cabeça e gostam de aprender, qualidades que levam à inquietação e daí ao descontentamento,  à rebeldia.
Este era o começo. Ia-me inclinando para o jocoso, mas há risco em ser tomado à letra,  melhor é entrar no assunto e, com simplicidade e respeito, inquirir dos senhores autarcas se, de facto, os cofres da edilidade portuense se encontram depenados a ponto de não haver neles a "migalha" com que contribuíam para Feira.Acho duvidoso que assim seja. Antes quero crer que os livros, a leitura, a escrita, nem peso-pluma são nas decisões do município, devem-lhe parecer carolice de uns quantos, e que esses quantos melhor emprego dariam ao tempo indo ver aviõezinhos a fumegar.Tanto como desprezo pela legítima vontade, e o direito dos cidadãos, em prosseguir actividades que lhes aumentem o conhecimento e enriqueçam o intelecto, semelhante atitude denota uma soberba de mandões à moda antiga, a do tempo em que uns poucos riscavam e o resto calava.Calados já não ficamos, mas no mais pouco mudou, que para mal nosso a democracia ainda vai de muletas e a prepotência continua enraizada. Com o estafado argumento de que não há dinheiro, decide o autarca que a Feira do Livro não se realiza. Mas mostra ele as contas? Os cálculos que fez? Prova aos cidadãos a justeza do que decidiu?Não mostra nem prova. Decide com arrogância ao gosto da própria vontade, ignorando o tempo em que vive. Porque poderá ter sido eleito pela maioria de uns, mas é sua obrigação atender ao interesse geral. E as Feiras do Livro não interessam apenas a uns quantos carolas que gostam de ler, mas a todos os que anseiam por algo mais que o superficial, o passageiro.  Interessam sobretudo aos jovens, para quem os livros são janela aberta para o conhecimento, a cidadania, a esperança de viverem numa sociedade harmoniosa nos direitos, nos deveres, no respeito do que contribui para o bem comum. Não se vê de imediato, mas as Feiras do Livro contribuem.»

É isto, totalmente isto

«A Feira do Livro no Porto em 2013»
(clique para ler)

quinta-feira, 6 de junho de 2013

[Intervalo]

Quem se tem dado ao trabalho de vir a este blogue nos últimos tempos já se deve ter apercebido que há tipos que não sabem respeitar o célebre bloqueio de escritor e a dignidade da página em branco.

Calhamaços

A Quetzal merece ser mil vezes louvada por ter editado A Piada Infinita, mas merece também um par de chicotadas por ter editado a obra num só volume e tê-lo feito antes de dar oportunidade ao revisor para uma segunda leitura.
O prazer de ler o livro é infelizmente a cada passo contrariado pela dificuldade em o manusear e pelas vezes em que temos de nos deter a avaliar se estamos perante uma gralha ou um escrúpulo do tradutor. Sabemos que o livro tem diferentes registos, diferentes construções frásicas e formas de observar a gramática, mas não raro confirmamos, depois de forçados a reler uma oração (ou uma passagem inteira), que, ainda assim, também tem gralhas e infelicidades tradutivas.
Esperámos 15 anos pela tradução — tínhamos esperado mais um para que ela fosse impoluta. E também tínhamos pago mais um euro ou dois para adquirir uma coisa com capas duras que nos evitasse luxações nos pulsos.
(Bem, quanto a este segundo aspecto, posso ser só eu ou o início da osteoporose a embirrar. Lembro-me que li o Ulysses em edição de capas moles e A Montanha Mágica num exemplar já sem capas e não me lembro de me ter queixado. No caso do primeiro, e tirando o monólogo interior da Molly Bloom, é certo que também já não me lembro do que nele li. Do segundo lembro-me de o ter lido de Inverno e de ele me ter aquecido sem ter de lhe chegar fogo. Tomem isto como uma boa crítica, por favor.)

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Thin tank

No meu rotineiro exercício de masoquismo (a versão oficial defende que é abertura de espírito), passo os olhos pelo Blasfémias e, atendendo à assertividade do sítio, frequentemente me pergunto se não deveríamos entregar o governo do país à direita de Vítor Cunha, João Miranda, Rui A. e Gabriel Silva. Mas depois uma voz me diz: «Mas essa direita está no Governo e tem dado no que se vê!» E logo outra voz corrige: «Essa direita, ponto e vírgula: os rapazes não se entendem o suficiente entre si para que se possa dizer que há uma solução de direita para a crise ou para o que quer que seja.» O que não impede nenhum deles de ser 100% categórico, de estar 100% cheio de razão, 100% discordante de qualquer ideia de esquerda ou meramente dubitativa. Some-se a isso o histerismo fóbico de Helena Matos, a contribuição zelota de José Manuel Fernandes e a pegada deixada pelo hilário (e muito sintomático) Carlos Abreu Amorim* e temos ali um think tank de luxo.

* Estarão à espera de quê para contratar o ex-ministro e dr. Relvas para o lugar deixado vago na chafarica?