Já se percebeu que os defensores de menos Estado não têm capacidade
para pensar em mais nada. São monomaníacos. Perigosos. Porque nas actuais
circunstâncias menos Estado é apenas igual a mais desemprego e menos economia.
Uma abordagem sensata da crise pela União Europeia e pelo FMI teria implicado uma
estratégia de fortalecimento do sector privado como alavanca para o
emagrecimento do Estado. Porém, como os inconsequentes actos de contrição do
FMI provam, as instituições da troika não são constituídas por gente sensata,
mas por ideologia em estado puro. O objectivo daquelas instituições não parece
ser uma sociedade melhor — mas uma sociedade, adivinharam, com menos Estado. Para alcançar o objectivo
não se constroem estratégias razoáveis e praticáveis — avança-se a eito e à bruta,
por decreto ou ultimato.
Argumentarão que a troca das premissas não era condição para o
fracasso. Que, pelo contrário, começar por emagrecer o Estado é que era condição
para fortalecer o sector privado. Talvez uns anos antes pudesse ter sido assim.
Talvez daqui a uns anos possa ser assim.
Neste período, emagrecer o Estado implicará emagrecer uma parte substancial
da população.
Talvez em certos sistemas filosóficos ou ideológicos seja legítimo sacrificar
uma parte da sociedade para que a outra sobreviva com menos Estado. Já se sabe:
onde uns vêm distopias, outros vêem utopias. É tudo uma questão de perspectiva
— e de ter ou não ter almoçado.
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