Certos comentadores de direita, apesar de quotidianamente afirmarem que
este Governo é incompetente, de passarem o tempo a irritar-se com este Governo,
de não hesitarem em chamar “socialistas” a ministros deste Governo, não cessam
de o apoiar. E porquê? Porque na verdade o Governo expira o mesmo ar pesado desta
direita mais ideológica e contamina com ele a atmosfera geral — e isso é a única
coisa que importa. Não importa que o Governo não tenha mudado nada do que
estava realmente mal em Portugal. Boys? Aumentaram. Favorecimentos? Mantiveram-se.
Instituições e gestores incompetentes? Certamente aquelas não diminuíram ou
diminuíram por acaso, apanhadas na avalanche demolidora, e poucos destes foram
demitidos (sendo, aliás, logo compensados com outros de igual calibre mas da ideologia
certa). Pelo caminho foi dispensada gente competente, mas que vota mal, e
destruídas instituições que não envergonhavam o Estado.
Importa é que de dia para dia se abre o caminho à Besta de certa direita
(ou ao Caos, logo veremos).
O que o Governo fez foi munir-se de bulldozers para derrubar todo o
bosque onde supostamente estavam as árvores más — e nós sabemos como a direita thatcheriana
adora bulldozers. Entrar simplesmente nos antros de incompetência e nepotismo e
identificar os elementos podres, como faziam os regedores florestais, nem
sequer passou pela cabeça destes bacharéis. Cria-se o estigma, prepara-se a
opinião pública (e há uma quantidade incrível de tipos auto-iludidos com o seu
suposto conhecimento do país prontos a segurar este tipo de bandeiras) e
leva-se tudo à frente. Para fazer o que tem feito, o Governo não precisava de
contratar assessores nem de encomendar estudos (e no entanto contratou e
encomendou sem constrangimentos). Bastava-lhe deitar sortes, com dados ou outro
instrumento do mesmo rigor e critério. O resultado não teria sido diferente.
Haverá alguém no meio deste excitadiço circo neoliberal que acredite ter-se
melhorado o que quer que fosse no que se refere a corrupção, oportunismo,
nepotismo, má gestão e incompetência em geral? Que isso foi sequer preocupação
do Governo? Se não abundassem respostas a estas perguntas, bastaria olhar para
a forma como os partidos da maioria estão a lidar com as autárquicas — que
decorrerão como se não houvesse crise e como se Portugal não tivesse nada a
aprender com as últimas décadas. Vários dos mesmos comentadores de direita que
enchem as bochechas de moral e ética contra o Estado estão no terreno a
posicionar-se ou a posicionar os seus peões, as suas brigadas jotas e os seus
dinossauros escleróticos para o grande banquete da cacicagem.
A única coisa que mudará em Portugal depois deste Governo será o número
de desempregados e de instituições entaipadas.*
*E a posição relativa do Borda d´Água em relação ao Excel no ranking.
Sem comentários:
Enviar um comentário