sexta-feira, 28 de março de 2014
terça-feira, 25 de março de 2014
JRS x JS - 2.º round
Entretanto percebi melhor qual o formato do programa (não vejo televisão, não sabia) e porque o desvio de JRS causou indignação. Ora bem, o facto de se tratar de um programa que procura saber a opinião de José Socrates não dispensa os jornalistas de fazer o seu trabalho. Errados estão todos os outros jornalistas que fazem de naperon ou de figurantes nos programas de Marcelo e afins. Se a ideia é que os tipos falem sem contraditório, o correcto seria pô-los sozinhos em frente à câmara. Os separadores de temas poderiam ser quadros de legendas, como nos filmes mudos, ou mão-de-obra requisitada à Elite Models, não gente com carteira de jornalista. JRS pode ter mostrado um excesso de zelo direitista (uma agenda pró-governamental), mas antes isso do que um daqueles cães que antigamente se punham nos carros e se limitavam a acenar com a cabeça. O papel do jornalismo é perguntar, questionar, confrontar, e não só quando isso nos agrada.
segunda-feira, 24 de março de 2014
JRS x JS
Vai para aí celeuma por causa da entrevista de José Rodrigues dos Santos a Sócrates. Não gosto de nenhum dos dois. Vi a entrevista. Rodrigues dos Santos fez bem em confrontar Sócrates com afirmações suas do passado. É para isso que servem os jornalistas, não para pés de microfone. JRS fê-lo com particular prazer? Acho que sim, mas o que importa é a utilidade da coisa, e tinha-a. Em contrapartida, Sócrates fez o seu papel, alertando para os contextos. Não o achei particularmente irritado, ao contrário do que para aí também se diz. E acho que se saiu relativamente bem na sua argumentação. Há, de facto, contextos que convém não esquecer, embora a muitos desse jeito.
P.S. Já agora, um exercício hilariante seria confrontar Passos Coelho com as suas afirmações pré-Governo e ver que "contextos" invocaria ele.
P.S. Já agora, um exercício hilariante seria confrontar Passos Coelho com as suas afirmações pré-Governo e ver que "contextos" invocaria ele.
Drink sangria in the park
Quando se pensa, à nossa maneira burguesa, num grupo de junkies a jogar à bola, imagina-se perónios
pelo ar e tíbias pelo chão. Um grupo de pessoas a desconjuntar-se, a esvair-se
em fluídos pouco dignos de observar. Isto se considerarmos sequer a hipótese de
haver junkies com tempo de se juntarem
à volta de uma bola, tão apressados e ocupados que sempre parecem, busy with dealing. Não estamos
preparados é para os ver, íntegros, com risos e técnica superlativa, desfrutar.
Desfrutar e reincidir nisso dia após dia. Na nossa própria alienação, andamos
esquecidos de que o ócio era a aspiração da humanidade.
Definitely Maybe
Enquanto ouvia com indolência “Wonderwall”, dos Oasis, apeteceu-me escrever que, se há vinte anos eu e o Paulo Araújo tivéssemos continuado juntos em projectos musicais, talvez tivéssemos sido uma espécie de irmãos Gallagher (em melhor). Mas não, não teríamos agredido ninguém fora do círculo familiar.
Dúvida ociosa
Será que os tipos da direita situacionista que hoje orbitam Rentes
de Carvalho (e são tantos) lêem com toda
a atenção tudo o que ele escreve e
diz?
quarta-feira, 19 de março de 2014
Efemérides
Olhando o país e o mundo, as minhas indagações remontam a 1914 e 1939 e ao que sentiam os tipos de 45 anos que eram resgatados da reserva para um qualquer contingente activo. Ou talvez, na verdade, indague mais atrás na História, 1908 e um voluntariado na Carbonária.
terça-feira, 18 de março de 2014
Corram...
...a ler a bela série de «Postais de um fotógrafo de bairro» de José Bandeira. O melhor cartoonista português é também um admirável escritor. Se houver um módico de justiça entre o céu a terra (onde dizem haver muita coisa), um dia seremos presenteados com um livro de José, ele que já nos estraga com mimos desenhados.
domingo, 16 de março de 2014
Cursos sem sentido
Sobre as declarações de Passos Coelho mencionadas no post anterior, Rui Rocha tem no Delito de Opinião o comentário adequado.
sábado, 15 de março de 2014
«Os senhores professores», disse ele
Anteontem ouvi na rádio Passos Coelho acusar algumas universidades de
manterem cursos sem procura e sem pertinência apenas para «os senhores
professores» poderem dar aulas. Não é a questão da racionalidade da oferta
universitária que aqui me interessa (sobre isso já discorri antes de
haver crise). É o tom, a forma como Coelho expeliu aquele «senhores
professores». Há expressões que dizem tudo, traem pensamentos e sentimentos. O
Primeiro-Ministro naquela frase não acusou apenas as universidades de
irrazoabilidade — achou também abusivo que os senhores professores quisessem
dar aulas. Sem o dizer, achou absurdo que os senhores professores quisessem
trabalhar.
Vinda de um Primeiro-Ministro que se opôs a qualquer medida capaz de criar
emprego, vinda de um PM que favoreceu com a alegria e a jovialidade dos fanáticos
a degradação do emprego (ou quando muito o emprego com salários de insulto), esta sua
«racionalidade» na organização do Estado parece tão científica e altruísta
quanto a «medicina» de Josef Mengele.
sexta-feira, 14 de março de 2014
O pimba do Senhor
Nos meus tempos de adolescente e néscio (com os anos, abandonei a
primeira condição), achei assaz progressista, apesar do traje, um franciscano
que me incitou a levar o baixo eléctrico para cima de um palco onde se cantavam
hinos ao Senhor. Passou-se isto no catolicismo e numa era anterior à editora
Flor Caveira, do evangélico Tiago (Guilul) Cavaco. O pioneirismo católico,
aliás, havia-se já manifestado quando na década de setenta a Igreja sobrepôs
letras de excitação beata a canções de Bob Dylan. E o aggiornamento não mais parou. Hoje, muito modernas formações musicais
louvam o Senhor como aos domingos à tarde se louva na TVI a genitália feminina:
com vocalista trejeitoso e partenaires gesticulantes, comprimidas em slim jeans ou calças de lycra e t-shirts
um número abaixo. (Se não tivesse visto, não seria capaz de imaginar isto.)
A estética e o sentido coreográfico pimba são tão omnipresentes em
Portugal quanto Deus Ele Mesmo. E mais influentes. Não admira que a própria
Igreja ache natural que, em palco, se declare amor a Cristo com os passos, os
gestos, a melodia, o instrumental e os coros que geralmente se usam na TVI para,
com trocadilhos e metáforas de baixa extracção, se aludir a fodas, minetes e
broches.
De resto, se é popular, a Igreja procura absorver, como sempre fez com qualquer
ritual pagão. Que se lixe a estética e a lógica, se isso lhe permitir recensear
mais umas almas (importa-lhe mais a estatística das almas do que as suas práticas).
Não se pode é a Igreja admirar que os aleluias gritados no apogeu dos cânticos
passem a ter outra conotação e o êxtase deixe de ser místico.
P.S.: «E nós… pimba, Senhor», poderia ser uma resposta moderna ao «crescei
e multiplicai-vos», não fosse a contracepção.
P.S.2: Já no Natal, poderiam substituir-se as estrofes gastas do «Noite
Feliz» por versos mais modernos: «Mas quem será? Mas quem será? Mas quem será /
O pai da criança, eu sei lá, sei lá… eu sei lá, sei lá...»
Comportamentos desviantes
Reconhecemos uma alma gémea quando alguém que entra no shopping, depois de puxar para si a grande porta envidraçada,
volta a fechá-la e de novo a abre apenas para confirmar que, sim, a porta faz
um barulho cómico, humanóide, que apetece ouvir outra vez. Depois da breve pausa
na frivolidade do mundo, ele entra e eu saio, sorrindo ambos de portas que
adoptam comportamentos desviantes.
quinta-feira, 13 de março de 2014
Aparências
1.
São meia dúzia em volta da mesa de pedra junto ao rio. Geralmente a
mesa é usada, em tardes de furo ou gazeta escolar, para umas festas de álcool, para
enrolar e partilhar uns charros. Os grupos exclusivamente femininos são talvez
menos frequentes, mas lá está a atitude semiclandestina, lá estão os risinhos langorosos
e cúmplices, os corpos dobrados em tenda conspirativa sobre o centro da mesa. E
no entanto, quando se abre um pouco a corola de adolescentes primaveris, o que
aparece a ser transaccionado ali no meio é um banal frasco de verniz de unhas,
como num cliché da Ragazza.
2.
O rapaz vem de praticar desporto, calções, t-shirt suada, cabelos molhados, sweatshirt atirada sobre um ombro. As três raparigas aproximam-se
entre embaraçadas e conspirativas, com segredinhos e empurrando-se umas às
outras. Cortejam-no. De saia ou vestidos coquetes, alguma pintura no rosto,
parecem saídas da mesma edição da Ragazza
atrás referida. Ou de um quadro mais antigo, de um que tenha fixado a óleo uma
tarde bucólica no parque. Porém a oralidade trá-las de volta ao futuro. Tendo
talvez sido contrariada, uma delas abandona a discrição, a corte vintage, e dispara à colega um sonoro «vai-te
foder, caralho», que o rio devolve em eco. O rapaz não parece sentir que se
tenha desfeito o encanto, continua a atrasar o passo e a controlar a distância e
os risinhos pelo canto do olho.
3.
Pequeno gangue, vêm subindo a rua. Cortes de cabelo, roupas, calçado,
balanço do corpo, tudo de acordo com o modelo rebelde sem causa, vulgo
arruaceiro. Param de súbito a conversar animadamente, ruidosamente, belicamente,
ocupando metade da via de trânsito e todo o passeio. Os carros ultrapassam-nos
em pequeno e conformado slalom. Os
peões contornam-nos por fora, como vítimas de bullying fugindo à palmada nas costas. A descer a rua, avanço a direito
com a inércia e uma vaga intenção de reivindicar o meu direito a um vector no
passeio. Estendo o braço para abrir alas e o distraído rapaz à minha frente estremece
de susto, como se acabasse de ser abordado por um assaltante. Desvia-se,
cordial, e eu continuo caminho, a rir-me do ridículo. Do meu ridículo.quarta-feira, 12 de março de 2014
A vitoriosa trimestralidade da LER (1)
O Correio da Manhã, esse
pândego, considerou uma boa notícia a LER passar (ou regressar) a uma periocidade
trimestral. Pelo menos a seta junto à informação apontava para cima (recebendo como
troco uma farpa de Rui Zink no Facebook). Para mim, esta alteração pode de
facto ser uma boa notícia: se a revista aumentar o conteúdo, como prometido, e mantiver
o preço de 5 euros, talvez, bem contados os trocos, possa voltar a comprá-la.
Mas esta renovação da LER («sem lamentos nem desculpas») só é uma
vitória ou uma boa notícia porque estamos demasiado habituados a más notícias.
Podemos, nestes tempos de cinza, considerar uma vitória a LER conseguir manter-se,
ainda que trimestralmente; podemos considerar uma boa notícia a LER
simplesmente não acabar, como seria possível e de certo ponto de vista até
provável. Mas estas são as vitórias simbólicas da Resistência, destinadas a
manter o moral. Verdadeira vitória e boa notícia sem sombra de eufemismo seria
a LER renovar-se e aparecer com «mais páginas, mais reportagens, mais profundidade e densidade» mantendo a edição mensal.
Assim, concluímos apenas que o país não tem dinheiro nem leitores
suficientes (ou suficientes leitores com dinheiro, numa versão optimista) para
uma revista mensal de livros.
A vitoriosa trimestralidade da LER (2)
Muitos anos, circunstâncias, instituições e pessoas contribuíram para o retrocesso da LER à periodicidade trimestral. Paulatinamente, o livro (e não
falo em particular do romance) foi banido das televisões, das escolas, das
universidades, dos jornais (guetizado em suplementos a que prescreveram uma dieta
crescente), dos discursos políticos, das conversas em geral. Uma ou duas
gerações de dirigentes partidários e institucionais particularmente plebeias,
particularmente representativas da boçalidade e do arrivismo nacionais, foram
suficientes para consumar o desaparecimento do livro — e a geração que lhes
há-de suceder nem sequer consegue soletrar a palavra.
quinta-feira, 6 de março de 2014
quarta-feira, 5 de março de 2014
Um país ao espelho
[no Âncoras e Nefelibatas]
«Não sou muito de partilhar dos curiosos hábitos higiénicos dos colegas portugueses que asseveram que "isto é uma cambada de paneleiros e de fufas que até mete nojo". Há que relativizar hábitos higiénicos de um povo que tem assegurado a longevidade política do doutor Alberto João Jardim, e a epistemologia de quem em Maio ou Setembro vai de rojo a Fátima por causa da senhora que brilhou na azinheira.»
sábado, 1 de março de 2014
Pequenos retratos infames (2)
Helena Matos
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