A vantagem de termos um escritor em vez de um contabilista
na SEC foi aprendermos a soletrar correctamente «não-há-di-nhei-ro» — com sílabas,
em vez algarismos.
Fora isso, que diferença teria feito se um qualquer corta-relvas
tivesse assumido o cargo?
Antes das eleições, FJV queixava-se ao “I” do financiamento
municipal à música pimba. Pois tenho boas notícias para ele: a curto prazo, o
financiamento da cultura pimba será todo
o investimento que as câmaras farão na cultura. Não porque sejam
particularmente inclinadas para isso (são-no), mas porque cessou nesta legislatura
qualquer estímulo que pudesse haver em sentido contrário. E quando falo em
estímulo não me refiro ao dinheiro do Estado (que, de resto, não existia nas
legislaturas anteriores). Estou a pensar num discurso favorável à cultura em
vez de um que a estigmatiza e torna (mais) impopular. Estou a pensar no QREN, numa
ínfima parcela dele.
Bem sei que a audiência de FJV é uma meia dúzia de blogues
conservadores e francamente relutantes no que toca a tirar o cu do sofá, mas há
um país para lá deles. Ok, um país que na sua maioria fica satisfeito com uma
ocupação pimba dos equipamentos municipais. Mas, pôrra outra vez, se a ideia era
desistir do interior talvez pudessem ter evitado um gajo do Pocinho, não?
também acho que foi um erro o Francisco ter aceite o cargo.
ResponderEliminare até tinha um argumento, a passagem de ministério a secretaria de estado.
mas acho que ele pensava que ia fazer alguma coisa de positivo, para além de tentar acabar com os "subsídio-militantes", que existem de norte a sul.
infelizmente até com estes ataques está errado, porque o país precisa de ter teatro, música, cinema, etc, de qualidade, porque o gosto das pessoas não pode ser moldado apenas uma televisão que é em muitos aspectos pior que a que existia antes de 1974.
Obrigado pelo comentário.
ResponderEliminarOs ataques à “subsidiodependência”, aqui e ali pertinentes, foram só uma forma de deitar fora o menino com a água do banho. Uma posição ideológica estúpida e ignorante. Podemos chamar-lhe uma “utopia” da direita portuguesa. Nos raros casos em que na direita concordam sinceramente que «o país precisa de ter teatro, música, cinema, etc., de qualidade», como julgo que o FJV concorda, há demasiada ingenuidade e desconhecimento. Com a televisão e a imprensa que temos, e agora com o discurso político maioritário que temos, só nos sonhos mais delirantes haverá um dia público ou mecenato que sustentem financeiramente as artes. O que vamos ter, particularmente na província, é uma versão actualizada dos anos 60: folclore, amadorismo local da mais fraca qualidade e pertinência, pimba e digressões nacionais já não de revista à portuguesa, mas de comédias mediáticas, simplórias e muitas vezes brejeiras, com vedetas televisivas no elenco. E talvez algum pop/rock.
Não deixa de ser sintomático que a única intervenção da SEC que conheço em relação ao interior tenha sido suficientemente desajeitada, paternalista e sem conteúdo para caber neste movimento retro.