Apesar da linguagem, do conhecimento da matéria, da aparente
intimidade com os detalhes que ocupam as candidatas a “estrelas”, a mais nova
estava-se claramente nas tintas para o tema. Não parecia desinteressar-se pelos
sonhos da irmã adolescente (ou prima, ou amiga), não era isso. Apenas a sua
solidariedade, a sua cumplicidade não ia ao ponto de valorizar assim tanto o
que quer que exigisse tais esmeros.
Se fosse a mais velha a falar sobre os anseios da menina
(bonecas, desenhos animados, amigos imaginários, brincadeiras, corridas ao ar
livre), o tom não seria mais paternalista, condescendente, duma cumplicidade
carinhosa e interessada mas não totalmente empenhada.
Assistiu-se a uma inversão. As questões da beleza feminina
foram naquele momento reduzidas a caprichos infantis, anelos transitórios a que
a idade tira importância. A mais nova das meninas mostrava, sem a impor, a sua
maturidade. Não se importava de dedicar algum tempo a um assunto pueril, mas
simultaneamente percebia-se (ela deixou claro, aliás) que tinha coisas mais
importantes de que se ocupar, como por exemplo correr a embrenhar-se mais no
parque para aproveitar o bom tempo extra que foi concedido ao país. «O Verão
não vai durar sempre!»
No entanto, como sabemos que com a idade não vem necessariamente
mais juízo, é possível que daqui a um par de anos também esta menina só se
preocupe ao espelho com o aspecto do cabelo e corte sempre as unhas no tamanho que
as revistas aconselham. Nessa altura, um Verão que entra pelo Outono não fará
parte do estreito leque de coisas que maravilham.