terça-feira, 25 de outubro de 2011

Aproveitemos o PREC (processo de reformas em curso)

A opinião pública obteve algumas conquistas recentemente: os cortes nas pensões vitalícias e o (prometido) fim da acumulação de pensões e salários de ex-políticos, a abdicação de subsídios de alojamento por parte de alguns responsáveis governamentais. A opinião pública não deve parar agora. O Governo criou, involuntariamente, as condições para mais algumas vitórias contra a desfaçatez dos ricos e poderosos. Não estava na cabeça do Governo agir nessa frente, claro que não, mas a ânsia de contrabalançar a sua própria brutalidade obriga-o a concessões. A indignação deve por isso persistir, avançando agora, por exemplo, para a situação remuneratória de Cavaco Silva e para o escândalo (europeu) das empresas portuguesas que fogem aos impostos para a Holanda, esse poço de virtude.
A obsessão com as remunerações dos políticos pode ter o seu quê de demagogia e populismo — mas não mais do que a demagogia e o oportunismo que sustentam as desproporcionadas prerrogativas daquela classe. Morder-lhes as canelas não resolve a crise, mas nada nos impede de aproveitar a crise também para esta reforma: tornar Portugal um país menos assimétrico no que se refere a rendimentos.