Na imagem do JN, uma estudante procura impedir que os turistas fotografem um momento de praxe universitária (ou “ritual de integração”, o eufemismo em uso). Podemos imaginar que a rapariga pretende zelar pela dignidade dos caloiros, impedir que a humilhação a que geralmente os sujeitam seja registada e alvo de exposição pública (por exemplo, na Internet). Tenderemos a simpatizar com a jovem, com a sua diligência humanista.
Ou podemos ser mais exigentes e pedir-lhe um pouco de coerência. A dignidade dos caloiros não é ofendida pelas fotos inconvenientes que possam circular. É-o pelos actos que sobre eles cometem os colegas mais velhos. Culpar o mensageiro foi sempre a fórmula dos déspotas.
Na verdade, a rapariga que põe a mão à frente da câmara e diz «no photo» não nos deveria merecer excessiva simpatia. Se foi suficientemente inteligente para dar o primeiro passo (considerar indigna a exposição da humilhação), é mais culpada por não dar o seguinte: considerar indigna a própria humilhação.
Em bom rigor, o que a imagem do JN registou foi alguém a pretender esconder as provas da sua vileza — mesmo que inconscientemente, mesmo que com um retorcido sentimento de virtude. Como nas melhores autocracias.
Era uma estudante universitária — poderia ser o esbirro de uma ditadura.