quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A obesidade dos nababos

Com a sensatez habitual, Pedro Lomba escreveu hoje no Público sobre como afinal o modus operandi dos governos Sócrates e Passos Coelho se assemelham. (No post anterior, “Dupond e Dupont”, fiz um exercício semelhante, exceptuando talvez a conclusão.) A mesma sensatez, que escasseou durante tanto tempo por cá, leva Lomba a resumir a nossa situação actual: «deixou de haver dinheiro para a ideologia que consiste em gastar o dinheiro que os outros nos emprestavam a juros cómodos e com o qual sustentávamos uma despesa crescente e politizada.» Mais à frente, acrescenta: «É por isso que, com todas as críticas a um método deturpado, eu também sou daqueles que não vêm alternativas no imediato às medidas apresentadas.»

É possível que não haja alternativas, grosso modo. Não seria fácil tentarmos sozinhos um caminho diferente, embora fosse imperioso. Mas há detalhes importantes. Entre as particularidades do descalabro português está o facto de, com uma das piores economias, termos atingido na Europa uma das maiores desigualdades de rendimentos. Ora, este é um luxo a que também não nos podemos dar. Haveria alguma sensatez em corrigi-lo. Como? Efectuando cortes que funcionassem progressivamente na escala de rendimentos. Não há razão para que um país à beira da bancarrota tenha classes altas proporcionalmente mais ricas do que em economias estáveis. A «Europa» iria certamente apreciar que nos deixássemos de luxos insensatos e esta adequação à realidade aliviaria um pouco o sofrimento dos mais pobres. Ou talvez não fosse assim tão pouco: alguém faça as contas.

Claro que nada disto interessa a um Governo «corajoso» como o actual, para quem «luxo» foi o relativo bem-estar social que atingimos — não a obesidade dos nababos.