Depois veio a crise e o movimento
abrandou e a seguir retraiu-se. Agora galopa desesperadamente em direcção ao
passado, a um passado triste, enfadonho, de gente com os olhos postos na saída.
Enquanto a SEC procura purgar os grandes equipamentos nacionais, a breve lufada
de ar fresco que soprou no interior ameaça tornar-se de novo cheiro a bafio e a
desolação. Os pequenos equipamentos do Algarve, do Alentejo, das Beiras, de Trás-os-Montes
provavelmente não sobreviverão à onda de «racionalização» e à «análise do
custo/benefício» que necessariamente ocorrerão à escala regional, como
corolário da política nacional. A ponderação das bilheteiras determinará o
regresso ao folclore e à ocasional revista à portuguesa ou congénere em
digressão. A SEC tem um plano para Lisboa e Porto que apesar de tudo não parece equacionar o encerramento das principais infra-estruturas
ou o fim da sua missão — o resto do país não entra nas contas. O resto do país
é paisagem. E talvez «património». Para lisboeta ver.
terça-feira, 18 de outubro de 2011
O regresso da paisagem
Nos últimos dez anos, a cultura
democratizou-se e descentralizou-se, fruto de vários equipamentos que foram
construídos ou reconstruídos um pouco por todo o território. Num dado momento, o
viajante que seguiu o conselho «vá para fora cá dentro» e se aventurou para
além do termo de Lisboa deixou de deparar com um deserto. Por um lapso de tempo,
de norte a sul, a província foi menos provinciana. Podiam fazer-se roteiros que
aliassem património e artes. Era até concebível imaginar um pequeno êxodo
urbano, a vida nas berças começava a ter alguns dos atractivos culturais das
metrópoles. A deslitoralização do país, a existir algum dia, passava também por
esta “revolução”.