A ida ao multibanco era para ser um instantinho, mas a senhora estava à frente e tinha contas para pagar, carregamentos a fazer, saldos a consultar. Ele esperou, fingindo que não espiava as operações para entreter a impaciência. Finalmente a senhora retirou-se e sorriu, em jeito de desculpa. Ele levantou o seu dinheiro e foi buscar o carro. À saída do parque de estacionamento alguém tinha parado uma viatura com os quatro piscas ligados, obstruindo o acesso à rua. Ele soltou uma imprecação e respirou fundo. Era preciso ter calma. O dia mal tinha começado. Aguardaria um ou dois minutos antes de começar a buzinar, detestava o som da buzina. Mas não vinha ninguém e teve de apitar, uma, duas, três vezes. Da agência bancária ali ao lado saiu uma senhora, a arrumar papéis na mala de mão. Era ela. Não confiou nos extractos que retirou do multibanco, pensou ele. A senhora sorriu, em jeito de desculpa.
Depois de meter gasolina, estava finalmente na estrada para o trabalho. O trânsito circulava lento, havia uma fila. Numa curva larga conseguiu ver a cabeça do pelotão e o carro pareceu-lhe familiar. Não pode ser ela, praguejou. Mas quando a estrada ganhou outra faixa e ele pôde ultrapassar, ela sorriu-lhe.
Ao chegar, decidiu que tomaria um café antes de subir para o escritório. Era algo paradoxal, mas estava a precisar. Depois chamou o elevador e ele não se movia, alguém o retinha no piso de cima, ouviam-se vozes. Ao fim do que a ele lhe pareceu uma eternidade, o elevador desceu e abriram-se as portas. Antes que ela sorrisse, ele desencorajou-a com um gesto e um olhar fulminador. Nessa altura eram já velhos amigos, ele não precisava de disfarçar a impaciência.