Há palavras fetiche.
Pseudo
não chega a ser uma palavra, mas é um elemento de adjectivação que muitos
gostam de cometer. O seu uso mais frequente é como prefixo da palavra intelectual.
Ninguém é intelectual hoje em dia, os que estão mais próximos disso são
pseudo-intelectuais. Ora, tendo em conta
o valor semântico actual do termo, tendo em conta que não é bem visto ser-se
intelectual, chamarem pseudo-intelectual a alguém até pareceria uma
demonstração de apreço. Contudo, a gramática leva ainda mais voltas, e se
intelectual é já insulto, pseudo-intelectual é, do ponto de vista da intenção,
duplamente insultuoso. Como doido-varrido. Ou besta-quadrada. No uso do vulgo, pseudo
não qualifica de falso o termo que lhe sucede, com a intenção de negar a
suposta virtude ao alvo, mas reforça a conotação pejorativa que a palavra tem
na nova língua comum.
As ocorrências do fenómeno com que deparei mais recentemente relacionavam-se, é curioso, com a mesma pessoa. Um simpatizante do Secretário de Estado da
Cultura classificava de «pseudo-críticos» os tipos que questionavam a actuação
do Governo neste campo. Já uma subscritora da petição «As Artes e a Cultura
para além da crise» (uma pseudo-crítica, portanto) apelidava Francisco José Viegas
de «pseudo-escritor».
É divertido que utilizem a língua desta forma erudita pessoas que
pretendem ter ideias para a Cultura.