segunda-feira, 21 de novembro de 2011
Não há dinheiro…
É obscena a alegria mal reprimida com que alguns repetem «não há
dinheiro». Nem sequer parecem pais a enxotar filhos chatos ou perdulários. O
sentimento dos progenitores nestas situações pode ser tédio ou irritação. Mas decerto
nenhum pai diz a um filho com alegria (ou sequer tédio ou irritação) que não há
dinheiro para o médico, para os cadernos, para aquecer a casa, para o doce há
muito augado. Os pais muitas vezes procuram, por necessidade estratégica, desvalorizar
as dores e os anseios dos filhos, mas nunca ficam satisfeitos por os negar ou
contrariar. Tristeza, manifesta ou contida, é o sentimento humano para estes
casos. Alguns tutores particularmente pragmáticos podem arvorar uma certa
indiferença — perdoa-se-lhes, é a forma de não permitirem que as emoções
dificultem o que têm de fazer para a sobrevivência da família. Mas outros estados
de espírito são inadequados. A alegria mal reprimida é bizarra. Faz desconfiar
que há um sádico em casa, alguém com ressentimentos mal resolvidos.