A outra razão que VPV aponta é a inexistência de
público para o teatro em Portugal. Este argumento não é de todo destituído e,
apresentado na sua forma simplória, colhe em vários círculos pensantes e
decisores. Poder-se-ia argumentar que, por exemplo, as Finanças em Portugal
também não têm uma audiência fácil, mas nem por isso deixam de tentar existir. A
resposta é que as Finanças são fundamentais para a sobrevivência do país, o teatro
não. É verdade. Mas de que país estamos a falar?
Um país que dispensa o teatro com este argumento dispensa,
por coerência, todas as manifestações culturais “eruditas” (ou não comerciais).
Não significa isto que os utentes são necessariamente os mesmos, significa que
— do teatro à literatura, da dança à história, das artes plásticas à filosofia,
da cultura clássica à mais contemporânea — são todos minorias, pouco relevantes,
se avaliados por uma estatística cega.
Ora, um dos deveres democráticos de um Estado é
assegurar uma sobrevivência digna às suas minorias — mesmo que antropologicamente,
se quiserem. Depois, se pretender integrar uma certa ideia de civilização, poderá
tentar fazer mais alguma coisa.
É claro que muitos convivem bem com ideia de
choldra, até para poderem continuar a usar a sua gramaticazinha queirosiana. Mas
não parece ser essa a função de um Governo.
Excedeu-se o Estado português neste seu labor de
assegurar a “alternativa democrática” na área da cultura? Com um orçamento
significativamente inferior a 1% do OE não parece ser o caso. Tanto mais que o
investimento público na área do entretenimento, da festa pura e dura,
do pimba, é superior. Mas isto, mesmo que inútil, é popular, concorrido — e, enfim, não se
intromete no quintal do cronista.
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