quarta-feira, 23 de novembro de 2011
Medrar
Há não muito tempo, o que se ouvia cá em cima era uma flauta a tentar
ser afinada e harmoniosa, às voltas com melodias populares ou obras clássicas
para iniciantes. Nessa altura, a proverbial forma lusa de construir blocos de
habitação não vinha ao caso. Pelo menos não a propósito desta faceta da vida
íntima da vizinhança. De resto, o esforço divertia, evocava memórias, permitia
acreditar na persistência da arte. Mas entretanto o rapaz cresceu, tornou-se
pré-adolescente, largou a flauta. O seu repertório, atravessando as finas
paredes e lajes ou subindo pela canalização do edifício, quase se resume agora
a famosos hinos de estádio, entoados numa voz que quer (mas nem sempre
consegue) ser grossa e façanhuda como as demais.