A crise divide as opiniões e os comentadores em dois grandes campos. Um dos campos quase rejubila com os acontecimentos, a sua caricatura tem olhos esgazeados e a Bíblia na mão, erguida aos céus. O outro traveste-se por vezes de anjo. O primeiro mistura críticas legítimas com embirrações ideológicas. O segundo exacerba a legitimidade da defesa até à desculpabilização. As opiniões e os comentadores que ficam do lado direito da crise adoptam uma visão do mundo que exclui o estrangeiro; os seus olhos não alcançam mais do que Elvas, Vilar Formoso ou Chaves; depois da fronteira não existe nada, não se passa nada; o mundo somos nós e tudo sucede do que fizemos e fazemos; o futuro está só nas nossas mãos. Os que se posicionam à esquerda, gostariam por vezes de ficar de braços cruzados à espera de cavaleiros brancos que hão-de atravessar os Pirenéus. Entre todas as agruras que a crise nos trouxe, está esta míngua de sensatez que vai flagelando ora um ora outro dos lados onde se posicionam os contendentes.