sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Funcionários públicos

1. Prolegómenos de uma guerra civil
Sim, este é o momento para avançar com despedimentos em massa na função pública: nunca como agora houve tanta falta de mão-de-obra no sector privado. E se porventura as empresas não estiverem (compreensivelmente) interessadas naqueles inúteis, sempre sai mais barato pagar-lhes o subsídio de desemprego do que o vencimento. E como o subsídio tem um prazo findo o qual o desempregado provavelmente passa a indigente, aplica-se uma qualquer lei antiga que determine a erradicação de pedintes do espaço público. Algum dia temos de nos vingar de sermos mal atendidos nas repartições.

2. Dito de outra maneira
Um regime que assentou na oferta de emprego para compensar apoios eleitorais, que ao contratar olhava para o sobrenome no BI e não para o currículo, que criou cargos para este ou aquele amigo, que não se importou com a incompetência de funcionários, que permitiu a ditadura do funcionário (museus e bibliotecas fechadas aos fins-de-semana, porque «também temos direito a estar com a família» ou a ir à missa ou o raio, horários dos serviços à medida do funcionário e não do cidadão), um regime deste género não merece simpatia. No entanto, conviria não fazer política à medida da conversa de café ou do ressentimento ideológico. Conviria não fazer obras profundas no telhado durante o temporal. Uma reforma da função pública que, nesta conjuntura, passe por despedimentos em massa pode trazer interessantes poupanças ao Estado, mas vai engrossar drasticamente o número de desempregados, diminuir o consumo e a poupança das famílias e aumentar a convulsão social. Os fantasmas de há cem anos já andam a ser suficientemente agitados — talvez pudéssemos deixá-los sossegados mais uns tempos, reformando sensatamente, comprometendo-nos a reformas radicais quando a economia puder minimizar os impactos. A não ser que, claro, como parece ser o caso de muitos comentadores, estejamos de tal forma convencidos da nossa pureza e razão que não nos reste mais do que desprezo pelos compatriotas — e pelo bom senso. Precisamos de reformistas, não de pirómanos.