terça-feira, 4 de outubro de 2011

A crise é psicológica

Quem lê jornais tem uma percepção clara de que vivemos, na melhor das hipóteses, o fim de uma época. Por vezes a impressão transmitida é apocalíptica: uma guerra entre nações é de novo possível; tumultos que nos aproximam de guerras civis; desprotecção social; miséria para uma vasta maioria das pessoas.
Para alguns comentadores, esta é uma oportunidade de aplicar um novo sistema económico e político, mais justo e eficaz. Para outros, o tempo é de reforçar os mecanismos do capitalismo selvagem, um sistema que pode ser duro (sê-lo-á, crescentemente) mas funciona melhor do que todas as alternativas, defendem. Ninguém espera, de toda a maneira, facilidades nos próximos tempos.
Ninguém excepto o cidadão comum, que continua a utilizar com surpreendente frequência a expressão «a crise é psicológica».
Tirando o anúncio dos cortes no 13.º mês — na verdade ainda não sofrido —, a maioria dos cidadãos que manteve o emprego não sentiu por enquanto toda a veemência da crise. As empresas e as instituições já lhe provaram o sabor, claro, mas as ondas de choque levam o seu tempo a chegar aos funcionários, ainda preocupados com os resultados do campeonato e o desenrolar das novelas.
2012, como reza o calendário Maia, será o ano de todos os cataclismos. Finalmente toda a força da crise, entretanto agravada pelo permanente degradar da situação, se abaterá sem contemplações. Em 2012 não mais a crise será psicológica — a não ser para os que percam de todo o norte e o juízo e passem a viver em negação.
Seria interessante observar Portugal em 2012 — se não estivéssemos, como vamos estar, demasiado ocupados a tentar sobreviver-lhe.