E, porque também as rádios têm pânico de emitirem para o vácuo, as suas apostas são seguras, não é ainda aqui que há riscos, novidades, surpresas. Como a televisão, as rádios são uma peça na engrenagem do ciclo vicioso.
O que espanta é que, apesar de todo o esforço e manipulação dos agentes da previsibilidade (podemos incluir aqui os jornais, os media em geral, em larga medida a própria Internet), o que espanta é que subsistam focos de originalidade criativa no mundo e espíritos curiosos que navegam nos interstícios do sistema dispostos a serem surpreendidos, enriquecidos com o diverso e o novo. O que espanta é que, apesar do empenho concertado de governos e media, não tenha ainda crescido lã nas costas de todos os cidadãos e cascos nos seus pés.
É um espanto optimista, este, um maravilhamento com a natureza humana que talvez se alimente do dia luminoso e quente que esteve hoje. Estendamo-lo, resistamos ao Outono que se aproxima, permitamo-nos por momentos aliviar o cepticismo, o pessimismo ontológico; perguntemo-nos como seria o mundo se não tivesse sido inventada esta contradição nos termos: uma ditadura do (gosto do) proletariado dirigida superiormente.