Muitos dos que agora vêem com nitidez a decadência do ocidente estavam antes razoavelmente pacificados com o modelo económico em vigor, quando não eram eles próprios exímios gastadores nas suas áreas. Não eram talvez os casos de VPV nem de Medina Carreira, mas mesmo estes não se teriam atrevido (e creio que ainda não se atreveram) a dar o salto necessário no raciocínio: a decadência do Ocidente é talvez sinónimo de uma falha básica do capitalismo: o crescimento infinito é uma quimera. Perigosa.
Importaria sobretudo perceber se o endividamento que nos condena a todos, e nos deixa nas mãos dos especuladores e da China, teria sido evitado se o modelo capitalista tivesse sido empregue com mais, digamos, moderação. Ou seja, se se tivesse evitado esbanjar dinheiro em obras faraónicas e não raro inúteis, se não se tivesse feito das derrapagens absurdas nos orçamentos de obras públicas (invariavelmente com proveito de privados) a norma, se se tivesse legislado e posto em prática um modelo judicial capaz de diminuir drasticamente a corrupção, se a democracia tivesse sabido ser inclusiva e (portanto) promotora da produtividade dos cidadãos, se se tivessem condicionado ou evitado as regalias das classes dirigentes (carros, motoristas, cartões de crédito, vencimentos exorbitantes, pensões precoces e ricas), se se tivesse definido um espectro bem menos generoso para variações salariais (a quantidade de pessoas que em Portugal ganham mais de 3.000 euros é simplesmente suicida). Em suma, importa perceber se a causa do declínio do Ocidente é a desvirtuação do sistema ou se, como alguns pretendem, é a própria definição de Ocidente (segurança social, conforto, bem-estar, direitos humanos) que inclui a cláusula de implosão.
Talvez seja prematuro declarar a insolvência do capitalismo, mas é sem dúvida triste que antes disso se declare a falência da civilização.