Percebe-se então que aquilo está em causa é uma defesa do
trabalho, da dedicação, da perseverança. Com uma população assim, insinua-se, a
economia portuguesa não teria descido até onde desceu. Não há como não
simpatizar com a ideia.
A ironia é que o que a troika e Passos Coelho pretendem para
o país é exactamente muito sangue e suor (eles acrescentam lágrimas). Ainda vamos descobrir,
portanto, que na pátria não se estão a implementar medidas económicas, mas um
programa de body building. Passos
Coelho não é um primeiro-ministro, mas o personal
trainer de dez milhões de cidadãos. O que se visa não é diminuir o défice e
o endividamento, aumentar a produtividade — é que cada português seja capaz de
levantar um pneu de 350 quilos ou arrastar um camião TIR.
Mas conhecerá Passos a receita dos strongmen? Trabalhar, treinar e comer, «não há outra hipótese». «Muitas proteínas, arroz, batata e
feijão». Ora, tudo indica que esta parte da receita vai ser negada aos portugueses,
pelo que, mais do que strongmen, o
que se nos pede é que sejamos um tipo original de supermen: anoréxicos, mas pujantes. Escanzelados, mas fortes como
touros. Uma espécie de Superpatetas, talvez. Alimentados a amendoins.