quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Beleza enfadada

O ar de enfado ou de permanente irritação que ostentam muitas daquelas mulheres e raparigas que visivelmente se afanam a aprimorar ou a manter a beleza é pura eloquência. De quê? De uma superioridade que se impacienta com a banalidade do universo? De uma perfeição que não suporta a feiura e a vil natureza do resto da humanidade? É expressão indissimulável de deuses caídos e obrigados a habitar o repugnante mundo terrestre?

Talvez aquela eloquência apenas traia o esforço e o desapontamento dos seres em questão. O esforço sobre-humano a que obriga aquele tipo de beleza (disciplina, vigilância, concentração, exercício, dieta, investimento) e o desapontamento que vem de, depois de tudo, a pessoa continuar humana entre humanos, triste, vulgar, quotidiana e agastadamente humana.

Ou talvez aquela seja a expressão adequada e recomenda por especialistas em beleza para manter a frescura da pele e a tonicidade dos músculos faciais. Para manter um estado, uma condição, um nível de aperfeiçoamento que um sorriso, uma manifestação de agrado, de espanto, ou outra qualquer reacção emotiva, claro, faria desabar irremediavelmente.