segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A inescapável influência dos signos

Para disfarçar, dizia não acreditar nas previsões do horóscopo que vinham nas revistas, não era «assim tão estúpida». Mas via-se forçada a admitir que havia «sem dúvida muito de acertado» no carácter que o zodíaco atribuía aos nativos de cada signo. Era impossível não identificar a persistência nos Touro, a instabilidade nos Gémeos, o equilíbrio nos Balança, a preguiça nos Caranguejo. E, de qualquer modo, «mal não fazia», ler o horóscopo semanalmente, o que na verdade a ocupava desde muito nova.
Quando a mãe já velhinha teve coragem para lhe revelar que a registaram meses depois do nascimento (25 de Agosto em vez de 20 de Novembro), começou por ficar um pouco desnorteada, abalada nas suas certezas. Sentiu-se envelhecer em segundos os nove meses que tinha a mais. Depois foi tomada por um ressentimento feroz contra a mãe. Não exactamente pela ocultação da verdadeira data de aniversário, mas porque percebia agora que não precisava de ter acatado tão servilmente as suas absurdas exigências de arrumação. Não era afinal uma Virgem, não precisava de ter sido tão colaborante e sofrido uma adolescência orientada para a perfeição. Olhou o rosto da mãe e, para vencer, o rancor, entreteve-se a fazer contas, repassando mentalmente o calendário. Quando chegou a Novembro, censurou-se por, Escorpião que de facto era, nunca ter desconfiado de nada.