Não, o problema português não foi apenas elevar a despesa e
o consumo a níveis sem correspondência com a produtividade. Não foi só o
esbanjamento. O endividamento. Se fosse apenas isto, porque estariam a explodir
de raiva os funcionários da denúncia? Porque espumariam? Porque se pareceriam
tanto com o professor despótico que assombrava The Wall, olhos a saltar das
órbitas?
O que leva aquelas almas da indignação à apoplexia é que, em
simultâneo com o regabofe, perpassou pelo país, aqui e ali, uma brisa de
civilização. Algumas pessoas permitiram-se sonhar com um Estado ao serviço do
cidadão, cultura descentralizada, assistência na doença, serviços abrangentes e
próximos, disseminados.
Onde já se viu? Quem se julgou esta gentinha?
O professor nazi que agora nos fustiga não nos censura tanto
o desacerto das medidas tomadas, a insensatez das políticas seguidas. O que o
deixa fora de si é a própria ousadia, a veleidade em si mesma. A impertinência que os vermes tiveram de pretenderem mais do que a sua condição.
Agora não nos basta arrepiar caminho, pagar as contas.
Depois de nos saltarem à estrada de dedo em riste, os inquisidores vão querer ir
mais além, habitar-nos os sonhos, assombrar-nos as noites de descanso. Que de
resto não merecemos.