quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A profundidade das prateleiras

O zapping radiofónico apanha na Antena 3 o que parece uma conversa sobre livros. Falso alarme: apenas um fait divers a meio de mais um programa banal. O assunto é, naturalmente, cómico: um artigo da Economist revela que a Ikea tenciona remodelar as suas prateleiras de livros (modelo Billy), tornando-as mais fundas para que possam albergar bugigangas e brique-a-braque — aquilo que as pessoas de facto lá põem. Ainda mais agora que os e-books se popularizam.

A classe média pode enfim respirar. Está, de hoje em diante, dispensada de comprar enciclopédias e calhamaços para mostrar sofisticação intelectual. O que se lhe pede é que encha a sala de tralha. Ainda mais.

O fim do livro impresso parece ser a alegria de muita gente (não só da classe média). Mas eu se fosse aos fãs do livro electrónico não me dava precipitados ares de superioridade: não tarda os fabricantes do Kindle e afins estão também a conceder mais desta “profundidade” às prateleiras dos seus aparelhitos: o povo vai com toda a certeza querer lá meter muita bijutaria no lugar de livros.