Não é muito comum virem passear os dois para o parque, mas hoje teve de
ser, os pais dela precisavam de ir ao shopping
fazer uma coisa e não queriam que ela fosse. Puseram-se a falar com meias
palavras, como se ela não estivesse ali, a combinarem o passeio dela com o avô,
que dia tão lindo para irem ver o rio... Como se ela fosse estúpida. Como se a
tomassem por parva. Como se esta não fosse a quadra que é. Como se ela não
percebesse que o objectivo deles era irem sozinhos ao shopping para se encontrarem com o Pai Natal e lhe apresentarem a
lista das suas prendas. O avô escusa de ter pressa, ela bem sabe que há muita
gente no shopping à espera de falar
com o Pai Natal. (Não percebe por que o Pai Natal nunca está no shopping quando
ela vai lá.) Os pais se calhar ainda
estão na fila. E depois é uma seca ter de esperar por terça-feira. Tantos dias
para fazer a entrega. O Pai Natal é como a Worten, que demorou quase uma semana a
entregar o computador novo. Ao menos a Pizza Hut entrega na hora, se a gente
telefonar. Os pais talvez pudessem ter telefonado ao Pai Natal. Escusavam de ir
desesperar para a fila e regressar a casa chateados e irritadiços, como
acontece sempre que vão os dois ao shopping.
Tinham vindo passear no parque com ela e o avô. Não que alguma vez o tivessem
feito, mas isto até é giro. Avô, viste como a ponte abanou quando aquele senhor
passou a correr? Que divertido. Vamos abaná-la outra vez? Vamos? Vamos?
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