Infelizmente a aquisição da revista implicou a queda noutro vício em remição:
leitura em espaço público com copo de vinho à frente. Não são os malefícios mais
previsíveis da exposição e do álcool que temo, mas a frustração que posteriormente
me toma. Enquanto leio a revista em ambiente de fumo e copos, encho-me de um
espírito de tertúlia, mesmo que à mesa não haja mais ninguém. Registo
mentalmente tantos comentários e considerações sobre os textos que leio,
acometem-me tantas ideias que temo precisar de fundar hoje mesmo uma outra
revista só para recolher toda a prosa que me ocorre. Talvez comece mais um
romance ou livro de contos. Um longo post
cúmplice sobre o «what if?» que Roth
diz ter levado à escrita de todos os seus livros. Quem sabe um pequeno ensaio caricatural
sobre o Casanova.
Mas nesta idade já não há embriaguez que dure. Caminho os duzentos metros
até casa, ligo o computador, calço as pantufas e aqueço o chá e… fico cinco
horas acordado para escrever aquela coisita sobre os albaneses que nenhum de vocês queria ler.
Já fiz quarenta há quatro, mas apetece citar o Pedro Mexia na sua crónica
de sábado, comemorativa da entrada no clube da ternura: «Aos 40 anos, vivo com “expectativas
diminuídas”, diminutas, em diminuição.»
Felizmente, ao contrário dele, as minhas expectativas tendem a voltar
quotidianamente, mesmo que para esbarrarem uma e outra vez na dura realidade.
Percebo agora melhor estes seus textos. É a nítida ternura dos quarenta.
ResponderEliminarQuanto aos albaneses, de facto, eu antes de a ter lido não a queria ler mas, depois, gostei de ter lido. E concordo com o que diz.
Mas vivemos tempos de albanização (e agora estou a referir-me ao âmbito económico) e, em Portugal, Vítor Gaspar e Passos Coelho serão os expoentes máximos dessa linha. Fernando Ulrich, com o seu 'ai aguenta, aguenta' está por trás a dar consistência ao discurso, sempre confuso e catatónico, de Passos Coelho.
Um bom dia e boas leituras!
Padecemos do mal da esperança, esse vulcãozinho manso que nos aquece em segredo quando ao redor se agigantam os icebergues.
ResponderEliminarFranzimos o sobrolho às caneladas da vida (e dos outros), mas acalentamos sempre essa luz que não permite que esmoreçamos.
Assim se recomeça, a cada instante, depois de terminarmos tudo com fragor.
E viva o luxo de ler e o gosto de um bom vinho, que transforma qualquer ser só num ente menos sozinho.
(...e o texto da Sophia sobre o Porto, hein? tão lindo! tão verdadeiro! tão...assim mesmo.)