Um albanês não tem
necessariamente de ser alguém que nos provoca antipatia pessoal, mas é em todo
o caso um indivíduo que voluntária ou involuntariamente representa algo que
detestamos e nos puxa pela língua.
No debate público nacional, os albaneses
não são forçosamente pessoas concretas. A designação original pretende aliás
remeter para um protótipo, uma categoria, uma abstracção. Um determinado
indivíduo pode ser um albanês pela
sua intrínseca capacidade de representar a espécie odiada, mas albaneses podem ser (e são-no demasiadas
vezes) apenas uns fantasminhas modelares que dão jeito para o tipo de discurso
que queremos proferir, para o tipo de ideias que queremos defender.
Convém estar alerta para os perigos que o abuso de albaneses acarreta. É preciso perceber que a albanização do debate cria uma realidade artificial. Quando de um lado
e doutro das questões os contendores apenas argumentam contra os seus albaneses, na verdade não argumentam
contra ninguém — ou deixam de fora do debate as pessoas moderadas, sensatas, capazes de
verem os prós e os contras das coisas, de verem os erros alheios e reconhecerem
os próprios.
Os jornais e os blogues estão cheios de gente que, infelizmente sem
talento queirosiano, se dedica a ridicularizar o adversário ou a estigmatizá-lo,
pondo em prática uma ancestral e desleal forma de desvalorizar argumentos. Ora, quando isso
não cumpre a função de nos entreter com qualidade literária, limita-se a dar
corpo à expressão «diálogo de surdos».
Na magna questão da crise é assim que acontece: há uma catrafiada de
gente a discutir com as suas caricaturas, a esmurrar os seus imaginários sacos
de boxe, e a deixar desolados e sem interlocutor os cidadãos moderados que
sobram. E são os moderados que podem salvar o país.
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