Suponho que a cadeia de supermercados terá uma verba para cobrir este exercício
de cidadania dos seus clientes. Do mesmo modo que tem uma verba para processar os
tipos de casta inferior que por vezes roubam um euro ou dois de hortaliça.
sexta-feira, 22 de março de 2013
Passarões
No supermercado onde me aprovisiono de atum, salsichas, sardinhas e
demais enlatados de guerra entram por vezes pássaros que passam a noite a
chilrear em busca da saída. Mas não são eles que depenicam os cachos de uvas
que ali se vendem. Quando decido comprar fruta desta, tento acreditar que os
bagos em falta foram retirados por diligentes funcionários à cata de uvas
apodrecidas (ou, pronto, vá lá, bicadas pelos pássaros). Mas não se é
misantropo por razão nenhuma: acabo sempre a desconfiar que quem depena os
cachos é a restante clientela, que acredita ser Democracia o estender as
patorras e tirar um bago ou dois ao passar e Liberdade o abrir um iogurte para
confirmar se é aquela a escolha acertada. Uma clientela ciosa dos seus
direitos, que responde a quem olha estupefactamente para a embalagem aberta e
devolvida à prateleira vociferando com ar de escândalo: «Que foi? Meta-se na sua vida!»
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