— Cabu… Cabu…
— Não é a Cidade do México?
— Não, pá, é Cabu… Cabu qualquer coisa.
— Não sei por quê, julguei que era a Cidade do México.
— Cabu… Cabul! É Cabul!
— Pois, é isso, tens razão. Já tinha ouvido dizer — anui ele, numa
concessão sincera mas ao ouvido inverosímil.
Param em frente à montra de um café aberto e ela, sem ceder nos decibéis,
comenta qualquer coisa que vê na televisão ou atira imprecações lá para dentro.
Riem alto e ele quase a enlaça pela cintura. Ela resiste. Mais uns passos e,
mesmo ao virar da esquina, ele logra enlaçá-la pela cintura. Ela ri-se, coquete,
lisonjeada, refilona, e inflecte o caminho.
— Não era por ali?
— Não, pá, é por aqui.
— Julguei que fosse por ali.
— Ouve, é por aqui.
Estão a retroceder nos seus passos antes de nova inflexão, mas ele não se
mostra incomodado. O andar era acelerado, mas talvez não houvesse pressa,
afinal. Pareciam ter um destino, mas se calhar isso pode ser alterado. Ela dir-se-ia
feliz a desorientá-lo pela cidade, ele tem esperança num desenlace recompensador.
Entre o terem-se abastecido no dealer
dela e o recanto onde se ministrarão o que quer que tenham adquirido, o mundo
apenas existe como décor da sua deambulação.
Os que passamos por eles somos meros figurantes com quem, no seu enlevo
romântico, não se importam de partilhar cada sílaba dita e cada gesto feito, ou
a quem atirarão um impropério qualquer, se lhes der na veneta. A madrugada
há-de apanhá-los a descoberto, menos eufóricos ou mais zangados com o mundo. Não é impossível que ela termine, como noutras
noites, sozinha a vaguear pelas ruas a insultá-lo ou a insultar o mundo ou a
insultar o deus que pariu este mundo. Ele, por enquanto, ainda confia que pode
haver sexo e talvez ela nem tenha intenção de o desmentir, não por princípio.
Um rendez-vous entre junkies não tem
de ser radicalmente diferente das saídas das outras pessoas, mesmo que decorra
uns decibéis acima do comum e tenha (um pouco) mais disponibilidade para errar pela
noite.
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