Ao sábado à tarde o rapaz saía para ir ter com os amigos. Levava a
flauta, e a mãe sentia uma ponta de orgulho por o ter matriculado no Conservatório.
Não há como a música para distrair os putos dos vícios. Quando ele anunciava a
sua saída depois do almoço ela sentia-se tão descansada como se ele fosse a
caminho da catequese. (Mais ainda do que isso — nunca se sabe do que são
capazes os padres.) Deliciava-se a imaginar os miúdos junto ao rio em cantorias
de adolescentes nas tardes que prenunciavam a Primavera. Havia algo de
campestre numa flauta e ela, amante do campo, orgulhava-se que fosse o seu
rapaz quem, no grupo, soprava a flauta.
Foi-lhe por isso chocante descobrir que não havia cantorias à beira-rio
e que ninguém soprava na flauta. Havia, isso sim, umas festas com drogas e uma
engenhosa transformação do instrumento musical em cachimbo. A rapaziada
passava-o e chupava-o como índios negociando a paz, e ela, depois do choque, perguntou-se
se devia sentir orgulho no engenho do filho.
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