Imaginemos agora por um momento que os quatro de Dublin não tinham as
poupançazitas em offshores e se viam obrigados pela crise a
fazer de novo boa música: talvez eu pudesse voltar a conspirar com eles para
derrubar o governo. Nada era impossível para um proletário simplório durante os
três minutos de uma música e os trinta e três centilitros de uma Super Bock.
quinta-feira, 21 de março de 2013
Também tu?
Houve
um tempo em que a revolução me parecia acessível. Eram os anos oitenta e a
professora de inglês dava-se ao trabalho de arranjar um leitor de cassetes para
passar A sort of homecoming dos U2 e falar da poesia. Mais
tarde nesse dia ou no fim-de-semana seguinte o DJ (era o tempo em que haviamesmo DJs
nas discotecas) propunha Sunday, Bloody Sunday e não era
improvável que a rádio passasse entretanto Pride (In the name of love) ou New
Years Day, The Electric Co., Running to stand still.
Tudo isto nas versões ao vivo, claro, a electricidade era realmente importante
e despertava o epiléptico que há em mim. Depois disso a professora de inglês
entrou num imerecido esquecimento, o Bono deixou de ser um rufia de Temple Bar
e eu digo burguesamente que sim, li Dubliners — sem recordar
uma única história.
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