Na
Índia, a mulher do casaco de peles conseguiu cruzar toda a nação sem ter de
usar uma casa de banho que não fosse a higienizada de um hotel ou restaurante
incluídos no roteiro, tal o planeamento e a eficácia da agência de viagens.
Louva tanto a empresa e insiste tanto no feito que ficamos com a ideia de que a
agência de viagens lhe teria proporcionado um penico de ouro, se uma
necessidade súbita a acometesse entre Varanasi e Jaipur.
Já
na Finlândia, aliás um país de novos ricos, as coisas não correram tão bem. A
senhora não gosta de viajar de autocarro, fica-lhe a doer horrivelmente o rabo.
Por isso tinha-se mostrado um pouco horrorizada com a viagem de horas que a
amiga disse ter feito entre Helsínquia e S. Petersburgo. Ela também andou de
autocarro na Finlândia, mas num percurso mais pequeno, claro. O que não impediu
que as coisas corressem mal. Houve uma avaria e ela e o marido ficaram duas
horas inteiras à espera que a reparassem. Não enviaram um autocarro novo,
fizeram-nos esperar no local, vejam lá vocês. Definitivamente, a Finlândia foi
uma das piores viagens da sua vida. Paisinho cinzento e detestável.
A conversa decorria numa das nossas próprias cidadezinhas horrorosas de país assistido pela troika, e aqueles quatro eram decerto membros das forças vivas da região, com rendimentos fantásticos e influência política assegurada. Talvez tivessem até integrado alguns dos executivos autárquicos que tão diligentemente plantaram o caos e a fealdade pelas redondezas. Talvez agora estivessem também a empobrecer um pouco e as recordações de viagens fossem sintoma de império em declínio, nostalgia de família arruinada: no restaurante, com vinho e sobremesa, podia-se comer por pouco mais de cinco euros. Era um desses.
A conversa decorria numa das nossas próprias cidadezinhas horrorosas de país assistido pela troika, e aqueles quatro eram decerto membros das forças vivas da região, com rendimentos fantásticos e influência política assegurada. Talvez tivessem até integrado alguns dos executivos autárquicos que tão diligentemente plantaram o caos e a fealdade pelas redondezas. Talvez agora estivessem também a empobrecer um pouco e as recordações de viagens fossem sintoma de império em declínio, nostalgia de família arruinada: no restaurante, com vinho e sobremesa, podia-se comer por pouco mais de cinco euros. Era um desses.
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