Talvez esse espírito de convivência esteja exemplarmente expresso no centenário Paraíso, um desses históricos cafés centrais de amplo pé-direito e decoração imperial que certas terras deixam ruir e outras transformam em alguma coisa completamente diferente e em geral mais imbecil. O Café Paraíso tem de manhã as senhoras da sociedade a tomar o seu café ou chá, com os cônjuges mergulhados no Expresso ou no Diário de Notícias. Ao final da tarde, chegam para aperitivos e finos — com um livro ou um jornal aberto sobre a mesa, se não houver companhia para o debate — os últimos intelectuais do burgo. À noite, até às duas da manhã, juntam-se os pós-adolescentes noctívagos, uma rapaziada abundante que preenche toda a lotação e a certa altura transborda para a rua, engrossando à porta do Paraíso o botellón local.
Claro que Tomar não escapa incólume à fatalidade de ser portuguesa. Também o seu magnífico Convento precisa de ser assombrado; no caso, por algum monge que não esteja possuído por um espirito de funcionário público. Um que entre uivos e gemidos tenebrosos pudesse explicar ao staff do monumento que se o horário de fecho de um espaço é às cinco e meia não se tenta pôr os turistas na rua toda uma meia hora antes, não se eles já estão nos troços finais do percurso de visita. As diligências pós-fecho são para serem realizadas após o fecho. Se precisarem de renegociar o seu horário com a entidade patronal, façam-no. O turista paga pelo horário dele.
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