Como já todos tiveram decerto oportunidade de apreciar, os jotas são
uma espécie de guarda pretoriana dos partidos que ambiciona — e consegue —
obter cargos políticos. Enquanto adolescentes, fazem de claque, de tropa de
choque ou de aias dos chefes partidários. Vão aos comícios, aos jantares e às
cerimónias, com a sua prestabilidade e a sua coqueteria, criar a ilusão de que
os líderes são homens de estado, respeitados e respeitáveis, admirados e
amados, carismáticos e visionários. São a cortina de fumo que se interpõe entre
os políticos e a realidade. Uma pequena corte de pajens obsequiosos que ajuda o
soberano a construir castelos no ar. Os chefes dos partidos não enfrentam a
verdade porque para a verem teriam de avançar à catanada através de uma selva
de jotas. A sua estrada de Damasco é uma picada africana que só se cruza se se
estiver disposto a usar generosamente a espingarda de caça grossa antes de cair
do cavalo. Como os chefes não o estão, não se dá a epifania. Nem caem do
cavalo. Ou se caem é para deixar subir à sela, incólume, um jota da sua
predilecção.
Mais tarde, os jotas recebem os seus postos na máquina do Estado para,
numa primeira fase, continuarem com mais e melhores meios o trabalho de
incensar o chefe e firmar o seu poder absolutista. Na fase seguinte, iniciam o
seu próprio reinado de inépcia, arbitrariedade e terror na parte de território
que lhes tenha sido atribuída durante a repartição dos despojos.
Em Portugal os jotas têm vindo a chegar aos mais altos cargos do poder.
E isso é como ter nos postos de comando nacionais duques e condes (pela pesporrência),
aias (pela intriga palaciana) e pajens (pelo corte de cabelo). Nesta particular
espécie de monarquia, ao povo não resta mais do que o papel de bobo da corte.
Quem imagina que em Portugal o feudalismo acabou quando acabou a Idade
Média não vive cá. O feudalismo não acabou: apenas pôs gravata e, mais
recentemente, gel no cabelo.
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