No que toca à austeridade, não adianta muito estar contra ou a favor: ela
impõe-se se o dinheiro escasseia. E ninguém em rigor pode negar pertinência a
Tavares quando afirma que «sim, foi a imprudência em tempos de vacas
gordas […] que nos trouxe até aqui». De resto, outra sua afirmação no mesmo
artigo é também verdadeira, embora no seu facciosismo ele restrinja um defeito
nacional apenas à esquerda: «Boa parte da nossa esquerda ainda acredita que o
verdadeiro líder político é aquele que consegue dobrar a matemática e a
economia com a força da sua vontade.» Infelizmente, esta é uma característica
geral lusitana, entre outras coisas responsável por termos Passos Coelho como
primeiro-ministro — e Vítor Gaspar como ministro das finanças. A promessa do
prestidigitador é o salvo-conduto para ganhar eleições (vide Junho de 2011),
mas é igualmente o que tem sido vendido para sair da crise. A matemática e a
economia não se têm mostrado mais dúcteis perante os passes de Gaspar do que
perante os truques da esquerda antes dele. Isto e o erro de Reinhart &
Rogoff deveriam ser suficientes para um pouco mais de humildade da direita
ultramontana. Antes de nos prescreverem os calhamaços e as sangrias desatadas
deviam talvez ir rever contas e conclusões. É que aqueles de nós que não são da
esquerda esbanjadora nem da direita impiedosa gostariam de cair no abismo
sabendo que tal não aconteceu apenas porque alguém no poder ou nos jornais
achou aceitável o sacrifício e desnecessário rever dogmas.
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