Certa música imperfeita tem uma acção hipnótica sobre mim. Se eu fosse
uma serpente, o indiano que me quisesse encantar teria de ler a história do
rock alternativo e não ser um virtuoso no
seu instrumento.
quarta-feira, 3 de abril de 2013
Warpaint
Ouço-as e lembram-me coros adolescentes em grupos religiosos ou de escuteiros, meninas de saia rodada cantando a várias vozes, por vezes num só
tom, a mesma melodia de thriller enquanto
abanam as tranças. Ouço-as e as suas músicas parecem-me imperfeitas, inacabadas,
jam sessions insistentes à procura da
forma final de uma canção, várias canções à luta na mesma música, algumas boas
ideias reunidas a outras estranhezas. Ouço-as e lembro-me das minhas próprias jam sessions adolescentes, a obsessão com
uma frase, uma melodia, um som, uma malha, uma sequência de acordes, um ritmo, obsessão
não raro cruzada com certa embriaguez movida a Super Bock. Ouço-as e vejo-as como
me vi a descobrir um instrumento, deslumbradas com os sons, o minimalismo repetitivo
resultante do domínio incipiente da guitarra e do fascínio da descoberta, da
necessidade de ouvir e reouvir um truque recém-aprendido, um acorde encontrado,
uma harmonia conseguida. Ouço-as e julgo reconhecer amostragens de diferentes
camadas geológicas de uma parte do meu próprio território, punk de setenta, underground depressivo dos eighties, os anos de Seattle, alternativos
90s e seguintes. Ouço-as e por vezes não consigo parar de as ouvir, também eu
preso na espiral obsessiva que se inicia em “Exquisite Corpse” (EP) e continua
por “The Fool” (álbum).
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