Ainda um dia havemos de ser elucidados sobre como é que esta
aposta na emigração de jovens e quadros se coaduna com aquela mágoa tão típica
da direita com a infertilidade do país, o envelhecimento da população. Afinal,
a juventude faz ou não falta para viabilizar economicamente a pátria?
Posso adiantar-me
e esclarecer o paradoxo. A preocupação com a natalidade existia no tempo em que
era preciso defender com estatísticas a falência iminente do Estado Social,
agora que ele está em processo de desmantelamento já não são precisas muletas
dessas.
Não tenho ilusões quanto ao que é possível o governo fazer
nas condições actuais. E há uma boa dose de pragmatismo na exortação à debandada,
claro que sim. Só que não precisamos de um Governo para nos dizer o que fazer
quando a coisa fica preta, não é exactamente para isso que o elegemos. Seria
insensato (é insensato) pedir-lhe que nos assegure o nível de vida anterior,
como pedem as diferentes corporações no seu habitual egoísmo. Sempre foi insensato exigir ao Estado que
garantisse emprego para todos nas profissões escolhidas, saídas automáticas da
universidade para o mercado de trabalho. É estultícia conceber-se um Estado assim.
Mas, por outro lado, o mínimo que pedimos a um governo é que lute pela diminuição
do desemprego e estimule algo de patriotismo, ou melhor, de participação colectiva
no bem comum. As pessoas sentir-se-ão mais confortáveis a pagar impostos e
aumentarão mais facilmente a produtividade se o fizerem em nome de um país que
se entristece com a saída dos nativos, não de um que os menospreza ou dispensa jactando-se
de “frontalidade” e “pragmatismo”.
Não me repugna, porém, que o Governo exorte os conterrâneos a
mudar de área profissional (como aliás também fez, diga-se em abono da verdade).
Mas para que este apelo fosse mais do que mera hipocrisia, seria preciso que a economia
estivesse a ser estimulada para criar emprego. Seria preciso que passássemos da
fase do castigo moral (a “solução” exclusiva e beatífica da austeridade) à do
vamos lá tentar resolver esta merda, nem que fosse com campanhas de
repovoamento do interior, regresso ao sector primário. Está o Governo a fazer
algo mais do que gerir a insolvência? Tem planos neste âmbito? Tenciona mostrar
na União Europeia que assim não vamos lá e que eles também têm culpa no que nos aconteceu, que os juros que pagamos são inibidores? Não, claro que não. Por isso, quando o Governo
indica a porta de saída aos seus cidadãos, não está a ser frontal — está a
confessar a derrota, a anunciar que desistiu. Provavelmente antes mesmo de ter
tentado.
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