terça-feira, 27 de dezembro de 2011

As pessoas em concreto

Há muito tempo que não lia Pacheco Pereira e já não recordo quão frequentemente ocorria a palavra «imbecis» nos seus escritos, para mais impressos. Mas é bom lê-la, sobretudo no contexto: 
«(…) Há uns imbecis nos blogues que acham que falar dos problemas concretos das pessoas que não são fils a papa, publicitários, gente de glamour, neoliteratos, assessores de várias eminências, yuppies sem mercados, consultores, advogados de sucesso, é neo-realismo. A única coisa que se lhes pode perdoar é não saberem o que a palavra significa, mas tudo o resto não e perdoável nem mesmo com muito "espírito de Natal".»*
Infelizmente, o meu problema com as coisas concretas é inverso. Salvo excepções, é quando penso em concreto nas pessoas que me torno entusiasta de Passos Coelho. E de Torquemada.

Alguns estão prontos a insinuar, por isso, que o uso da abstracção faz de mim um utópico da laia de Rosseau. Mas diferimos, o francês e eu. Ele via bons selvagens. Eu vejo selvagens — mas não acho isso bom.

Por outro lado, os liberalecos da direita e eu não estamos, de certa forma, em radical desacordo. Números, índios-de-cu-ao-leu: é indiferente como encaramos as pessoas — desde que não tenhamos de sociabilizar.


*Público de 24/12

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