Não foi uma excentricidade como ir ao Solar Transmontano, mas perdi a
cabeça e gastei doze euros numa churrasqueira. Por vezes, o bilhete para observar
a vida selvagem sai caro.
O empregado perguntou-me o que estava a achar do Mundial e eu não dei
parte de fraco: aqueles cinco a um da Espanha eram qualquer coisa… Passei no
teste sem ter de explicar que coisa eram os cinco a um. De seguida chamaram-no
a outra mesa e também não tive de opinar sobre o Uruguai x Costa Rica que se
disputava no plasma (cujo resultado tinha espreitado preventivamente enquanto
ele falava e sobre o qual estava a tentar pensar o que haveria de expectável a
dizer).
Os clientes também podem ser constrangedores, quando são conhecidos do
pessoal. Uma das cozinheiras passa a caminho da casa de banho mas é detida por
umas perguntas e considerações mundanas da mãe de duas crianças do outro lado
da sala. A cozinheira, não contando demorar-se, fica a três quartos, com um pé no
ar, respondendo pelo canto da boca e pronta a continuar o seu caminho. Todavia,
a cliente tem sempre mais uma coisa para dizer e a cozinheira, indecisa entre a
delicadeza e a urgência, naquela postura de quem só ouvirá mais uma frase e
continuará a andar, vai deixando os pés para trás e inclinando o corpo na
direcção que pretende seguir. Estão nisto mais um longo minuto e eu preparo-me
para amparar a cozinheira, que está mesmo no limite da sustentabilidade da sua
posição. Mais uma frase da cliente e a queda é irreversível, foi atingido o ângulo
máximo de inclinação que um corpo humano consegue atingir sem se estatelar. Por
fim ouve-se uma interjeição telepática e a cozinheira dá o seu passo em frente,
aquele passo que suspendera antes, e deixa a cliente a falar para a abertura que
dá para o hall dos lavabos. Esta resigna-se,
dá um safanão numa das crianças e comenta para o garçon que o golo da Costa Rica foi mesmo um grande golo.
Sem comentários:
Enviar um comentário