[Para os patriotas que se
entusiasmaram com o post anterior]
Observando desfiles populares noutras paragens geográficas, somos
forçados a concluir com melancolia que, como povo, nem para descer alegre e ritualmente
as ruas temos jeito.
As formações “musicais” mais requisitadas para arruadas nesta zona do
globo são as de Zés Pereiras, ou equivalentes. O facto de serem constituídas apenas
por percussionistas não seria um mal, se colmatassem a falta de instrumentos
melódicos e harmónicos com virtuosismo técnico, variedade e complexidade
rítmicas, originalidade de composições, brilho coreográfico, ousadia e destreza
física ou elegância de trajes.
Mas não. A popularidade destas formações dá-se provavelmente porque,
não necessitando de ponta de génio ou talento, são baratas — e sendo baratas são
a desculpa adequada para instituições medíocres e desinteressadas de chamar
talento ou génio para as suas cerimónias e festividades.
Acresce que para instituições e um povo do calibre dos
nossos, o talento, mesmo que só para o fagote ou a gaita-de-foles, é um distintivo
de “elite”, essa ameaça à mediania fundacional da pátria.
P.S. Além dos bombos, o único instrumento que a raça genuinamente
ama (pela sua democraticidade, ou seja, por qualquer burro poder tocá-lo) é o
triângulo (ou ferrinhos), esse objecto que só em mãos brasileiras ganha qualquer
relevância musical.
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