Saltitante como um cachorrito, acompanha os pais numa caminhada ao fim
da tarde. A figura de alguém que lê um livro num banco à margem do caminho prende-lhe
de súbito o olhar. Não ao ponto de a fazer perder a oportunidade de pisar
ritmadamente as pedras que enterraram no percurso a fingir de pegadas de
animais. Mas, cumprido o gostoso exercício, volta a observar o leitor enquanto passa
por ele. Uns metros depois, não resiste a virar-se para trás e dar uma última
espreitadela. Os óculos de massa apoiados no narizito parecem assegurar-lhe um perfil
de leitora precoce e cúmplice que acabou de reconhecer um par. Porém, as
aparências demasiadas vezes enganam: talvez seja apenas uma criança que acabou
de ver uma bizarria. Ou talvez o paralelo canino seja acertado e, como todas as
crias de mamíferos, está apenas a cartografar intensa e francamente o mundo,
ainda desconhecedora das convenções adultas sobre o olhar.
Eu próprio transgressor, pisquei-lhe — e ela sorriu. Não digam a
ninguém.
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