Aprendi a certa altura que não se goza com as características físicas
das pessoas. O debate público é acerca de ideias ou actos, não de deformidades. Uma
corcunda ou um penteado ridículo não transformam em mentira ou erro as afirmações
de quem os padece. A beleza e a feiura, como a saúde e a enfermidade, a
inteligência ou a mediania, não fazem boas ou más pessoas.
Caricaturar o outro a partir dos seus defeitos ou padecimentos físicos é, portanto,
recurso dos pobres de espírito ou daqueles a quem escasseia talento para mais. É
humor que as tascas aceitam (porque aceitam tudo), mas delas não devia sair.
Dito isto, se me parece errado desejar que o fanico de Cavaco Silva seja
consequente, não vejo por que a ocorrência (a quase queda) não possa ser
invocada em frases irónicas sobre o seu
mandato enquanto presidente ou sobre o
regime que ele representa. Podemos desejar a máxima saúde para o cidadão
Cavaco Silva — mas agradecer que ele a vá gozar por muitos anos longe de Belém.
De resto, depois de, por exemplo, a sua tirada sobre a reforma que aufere, a empatia que as pessoas eventualmente sintam pelo ser humano que ele é será sempre mérito da bondade delas — nunca efeito dos actos dele.
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