No Verão de 2012, o jornalista Tim Butcher foi às profundezas da Bósnia-Herzegovina
procurar a casa de Gravilo Princip, o assassino do arquiduque Francisco
Fernando da Áustria. Quando encontra o que resta dela, pensa:
«Aquilo era uma casa europeia habitada por uma família inteira no início do século XX, mas fazia-me lembrar as choupanas com que me deparava frequentemente na África rural. O princípio era exactamente o mesmo: um chão de terra batida numa habitação construída com paredes de pedra, sob um telhado feito de madeira, colmo ou ramos apanhados localmente. Uma taxa de mortalidade infantil que podia matar seis dos nove filhos da família Princip soava mais a África do que a Europa. O mundo desenvolvido podia desesperar perante os problemas sistémicos da África moderna, mas estar ali, naquele jardim de Obljaj, ensinou-me como grande parte da Europa estivera recentemente em situação similar.»*
Duas décadas depois da morte de Gravilo, a minha mãe crescia numa casa
similar à do sérvio-bósnio que serviu de gatilho à Primeira Guerra Mundial. Um compartimento
de terra batida para a família, um compartimento adjacente com chão de carquejas
para o gado. Como Gravilo, a minha mãe cuidou dos animais em criança, afastou
lobos com paus e pedras. Não abateu nenhum arquiduque no final da adolescência,
mas um dos seus filhos escreveu um romance onde se fala de «terrorismo
inteligente».
Descontada a boutade pateta, há
decerto uma maldição sobre domicílios impróprios. Resolver problemas de habitação é talvez um bom exorcismo para casas-assombradas.
A Europa devia lembrar-se.
* A partir do muito interessante excerto de O Gatilho, de Tim Butcher, publicado na LER de Junho.
* A partir do muito interessante excerto de O Gatilho, de Tim Butcher, publicado na LER de Junho.
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