Durante uma parte do tempo, os velhos não conversam — retorquem com
impaciência, admoestam, resmungam. Falam por monossílabos e imprecações, com
muitos hãs? pelo meio. Imagino-os prisioneiros um do outro no pátio da
penitenciária que eles próprios construíram, esquecidos da razão porque ali se
encontram, reclamando vagamente, mecanicamente, contra as paredes, o carcereiro,
a pena.
Mas talvez o que me parece uma latência rancorosa mútua não passe de
surdez gerôntica e consequente exasperação. O que agasta os velhos pode ser a
sua própria insuficiência auditiva e não a presença odiosa do outro. Quem sabe
se as suas imprecações, por vezes em solilóquio, não se dirigem apenas ao
absurdo da biologia e da natureza? O mundo real não tem de ser tão ressentido,
pessimista e deprimente (ainda que cómico) quanto o de Money. Pois não?
Claro que se temos de ler livros assim, não é imprevidente fazê-lo num alpendre
alentejano, com o lado brilhante da vida a um passo da cerca, ali, na seara
onde passeiam ovelhas.
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