Gonçalo Portocarrero de Almada é um padre que escreve de vez em quando no Público. O jornal deve ter ido buscá-lo ao fundo do gavetão de uma sacristia húmida e bolorenta, uma daquelas onde fantasmas de abades medievais guardam os paramentos que usam à noite para assombrar velhas ruínas de conventos ou mosteiros convertidos em pousadas de charme. (Todas têm o seu fantasma, como os mais genuínos castelos escoceses.) Foi lá buscá-lo, com aquele cheiro a parafina, porque um jornal precisa de ser pluralista, apartidário, representativo de toda a sociedade civil (múmias em sarcófago incluídas).
As questões “fracturantes” têm vários paladinos do lado apologista de quebrar a louça (no Bloco, na JS, até na JSD, em certos dias de maluqueira). O lado, digamos, conservador também tem alguns (Assunção Cristas, antes de ser ministra), mas Portocarrero assegura a representação da ala botina-de-elástico. É um trabalho sujo, mas alguém tem de o fazer.
Acresce que, para maior felicidade dos leitores, o escriba não só defende posições (sobre o aborto, a eutanásia, o casamento entre homossexuais, a identidade de género, todo o ramalhete) já de si cómicas como o faz com apreciável humor. Ou com apreciável tentativa disso, como na crónica de hoje.
Para sublinhar (ia dizer sublimar, Deus me perdoe) essa faceta das crónicas, e porque o jornal, avaro, lhe não disponibiliza um ilustrador, até se deixou fotografar com um sorriso de seminarista malandreco. Ei-lo ali, sarcástico, de negras vestes, pousado como um corvo (ou gralha? a “gralha” de estimação dos tipógrafos do Público) em cima das letras do próprio nome, em foto tipo passe com as cores um pouco saturadas (vermelhusco nas fauces, partida marota do jornal, certamente). O leitor vê a foto e sabe, é avisado que pode começar a rir. Se, por distracção, atravessar todo o texto com azedume, ferido no seu liberalismo, nas suas luzes, na sua inteligência; se, coisa pouco provável, o leitor chegar ao fim da prosa sem que a boa disposição o tome, o nosso presbítero, que está aqui para nos divertir, com cabeção e tudo, deixa-lhe uma derradeira possibilidade, a punch line infalível, as duas últimas linhas: «Licenciado em Filosofia e vice-presidente da Confederação Nacional das Associações de Família.» De família.
Para sublinhar (ia dizer sublimar, Deus me perdoe) essa faceta das crónicas, e porque o jornal, avaro, lhe não disponibiliza um ilustrador, até se deixou fotografar com um sorriso de seminarista malandreco. Ei-lo ali, sarcástico, de negras vestes, pousado como um corvo (ou gralha? a “gralha” de estimação dos tipógrafos do Público) em cima das letras do próprio nome, em foto tipo passe com as cores um pouco saturadas (vermelhusco nas fauces, partida marota do jornal, certamente). O leitor vê a foto e sabe, é avisado que pode começar a rir. Se, por distracção, atravessar todo o texto com azedume, ferido no seu liberalismo, nas suas luzes, na sua inteligência; se, coisa pouco provável, o leitor chegar ao fim da prosa sem que a boa disposição o tome, o nosso presbítero, que está aqui para nos divertir, com cabeção e tudo, deixa-lhe uma derradeira possibilidade, a punch line infalível, as duas últimas linhas: «Licenciado em Filosofia e vice-presidente da Confederação Nacional das Associações de Família.» De família.
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